Pesquisadores da Faculdade de Odontologia da USP verificaram formas eficientes de se tratar a dor causada pela Desordem Temporomandibular (DTM), um transtorno causado por tensão excessiva em articulações ou músculos envolvidos no ato de morder. Essa dor pode atrapalhar o rendimento do dia a dia de diversas pessoas, e o estudo contemplou especificamente um tipo de atleta: os remadores.
Usualmente, associa-se o desempenho desses atletas ao bem-estar de outras partes do corpo, especialmente a coluna e os membros inferiores. Contudo, a relação entre a desordem e os remadores existe. A prática do remo inclui um momento de explosão, com o remo dentro da água, e um momento do relaxamento, quando o atleta tira o remo da água para executar o próximo movimento. No momento de explosão, ele tende a apertar a mandíbula.
É justamente o movimento de apertar a mandíbula que pode causar a desordem. O pesquisador Eduardo Abe explica: “Uma pessoa normal fica no estado de contração da mandíbula durante cinco minutos por dia, em média. À medida que esse tempo aumenta, pode-se desencadear uma DTM”. Especificamente, os atletas remadores estão sujeitos a essa tensão. “Analisando fotos de remadores, é possível perceber que em alguns deles a mandíbula é bem desenvolvida por conta dessa contração”, ele completa.
A desordem temporomandibular
A tensão excessiva é apenas um dos fatores que desencadeiam essa desordem. Ela também pode ser causada pelo trabalho muscular de apenas um dos lados da boca (ao mastigar, por exemplo), pela má formação dos dentes, bruxismo, entre outros fatores. De maneira geral, trata-se de uma carga anormal sobre a musculatura ou a articulação da face.
O principal sintoma é a dor na região da face, que os profissionais da saúde descrevem como dor orofacial. Em estágios mais avançados, o deslocamento de um disco da articulação pode causar um estalo quando o portador faz o movimento de abrir ou fechar a boca.
Apesar de se tratar de um problema odontológico, ela pode ser o início de diversos outros problemas. Para Eduardo, trata-se de uma reação em cadeia: “Se há um desequilíbrio, o organismo tenta se adaptar. Essa adaptação muitas vezes não depende só dos grupos musculares da face, interfere em toda a cadeia do pescoço, coluna, quadril, joelho. Por isso é importante dar um passo para trás e ver a pessoa como um todo”.
A pesquisa e o tratamento
A pesquisa se iniciou com 30 atletas que relataram algum tipo de dor. Desses 30, dez apresentavam dor orofacial. Uma análise clínica constatou que todos esses dez remadores tinham sintomas de desordem temporomandibular. Então, eles foram divididos em dois grupos de cinco integrantes.
Um dos grupos passou três meses fazendo um exercício usualmente recomendado para os portadores dessa desordem: encostar a língua no céu da boca e abrir e fechar a mandíbula 15 vezes. Esse exercício deve ser praticado três vezes ao dia. O outro grupo, além do exercício, passou os três meses usando a chamada placa oclusal estabilizadora. Trata-se de um dispositivo que, uma vez dentro da boca, preenche o espaço entre a maxila e a mandíbula (os dentes superiores e inferiores). Isso atenua os efeitos da tensão e, ao mesmo tempo, alivia o estresse que a causa.
Antes e depois desse procedimento, os pesquisadores usaram a baropodometria, uma ferramenta da fisioterapia para medir a pressão que os pés da pessoa exercem sobre o chão. Esse artifício permitiu que se analisasse o equilíbrio das pessoas. Como o remo é uma atividade que envolve movimento, os pesquisadores fizeram uso da baropodometria estática — com o paciente parado — e a dinâmica. Um dos resultados da pesquisa é que esses dois tipos de baropodometria devem ser utilizados em conjunto para uma análise mais completa.
Ao final dos três meses, o grupo que utilizou a placa apresentou diminuição da dor, e o que apenas fez os exercícios não. O pesquisador destaca a importância da redução da dor em atletas: “Se você está estudando pra uma prova com dor de cabeça, é mais difícil se concentrar. A mesma coisa acontece numa prova de uma modalidade esportiva: se estiver com dor em algum lugar, o atleta não vai render”.