Estimativas apontam que até 2018, as usinas eólicas representarão cerca de 10% da matriz energética do Brasil, podendo se tornar uma das respostas para o problema de desabastecimento que o país enfrenta. O custo de produção desse tipo de energia tem caído nos últimos anos, porém, as condições do mercado não são acolhedoras para novos investidores, como aponta a análise da pesquisadora da Escola Politécnica, Andrea Cristina Dias Fernandes.
O novo cenário de expansão da geração de energia renovável mundial estimulou mudanças nas leis do mercado brasileiro. Através de programas, incentivos fiscais e tributários, e leilões direcionados, o governo buscou incentivar e regular o mercado de energia limpa e renovável. Fernandes realizou um protótipo de projeto eólico no mercado regulado com custo e condições impostas nos leilões, relativos à câmara de comercio e energia, e percebeu que o investidor teria que ter bastante controle e experiência para não ficar acima do custo estipulado pelo governo, condições que afastam o novo empreendedor.
“Para participar de um leilão no mercado regulado, por exemplo, o empreendedor tem que encontrar um local, escolher o terreno, e fazer todo o desenvolvimento do projeto. Ele investe um bom dinheiro antes de participar do leilão”, relata Fernandes. A pesquisadora diz que esse processo chega a demorar cerca de dois anos, e no leilão, o governo atribui um preço mínimo ao projeto que muitas vezes não condiz com os interesses dos empresários.
Mercado livre
A pesquisadora defende que seria interessante para o pequeno empreendedor sair do mercado regulado e entrar no mercado livre. Nesse mercado, o empreendedor pode determinar o próprio prazo e a oferta de energia, o que poderia culminar em uma margem de lucro maior. Porém, outro protótipo de desenvolvimento eólico criado pela pesquisadora para o mercado livre também levantou alguns entraves enfrentados pelo empreendedor.
“O que impede o mercado livre é o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), que exige garantias físicas de obras pesadas”, explica a pesquisadora. Ela relata que o BNDES financia até 90% de uma obra de infraestrutura, como a construção de uma usina de energia eólica, mas pede uma garantia física de obras pesadas por 20 anos de financiamento. Algo que só é possível de se garantir se a empresa já está estabelecida no mercado e pode oferecer seu portfólio de projetos como garantia.
“Como o mercado livre é menor, com obras que duram 4 ou 5 anos, o pequeno investidor não consegue competir”, afirma Fernandes. “É uma realidade bem desleal. Só as grandes empresas conseguem gerar energia no país. E assim, a chance do crescimento energético é muito menor”.
Além da falta de financiamento, no mercado livre um novo empreendedor também enfrenta a falta de escoamento de linhas de transmissão de energia. O próprio empresário tem que arcar com as despesas de construção de torres e fiação elétricas por alguns quilômetros, adiando ainda mais a geração de energia.
Outros riscos analisados pela pesquisadora são o custo de manutenção e a condição precária da infraestrutura. As regiões mais propícias para a instalação de usinas eólicas são o norte e o nordeste do país, onde os ventos chegam a até sete metros por segundo. Mas essas mesmas regiões são as que apresentam as piores estradas do país.
Transporte de uma pá de 75 metros para compor uma turbina eólica. Fonte:http://engenhariae.com.br
Para que haja condições adequadas para o investimento privado, a pesquisadora defende a existência de uma linha de financiamento que atenda as características do mercado livre, como a criação de um mercado de balcão, com a introdução de comercializadores ou uma associação de empreendedores de energia que assuma os riscos e ofereça melhor remuneração e prazos contratuais aos produtores.
“Hoje ainda não temos isso”, relata Fernandes. “Quem entra no mercado livre entra com a cara e com a coragem. Se fosse montado o balcão de comércio livre, com regras mais justas, o pequeno investidor teria uma base para investir e disseminar a cultura da eólica, que é vista no mundo inteiro como uma solução para o problema de energia”.