O pesquisador da Escola Politécnica, Wilson Honda, em sua tese de doutorado, propôs um modelo diferenciado de certificação da sustentabilidade de edifícios de escritórios corporativos no Brasil. Apesar de hoje existir no país uma procura significativa pela construção de empreendimentos sustentáveis, as certificações existentes não avaliam o desempenho real do edifício, ou seja, seu funcionamento na prática. Tendo isso em mente, foi criada uma certificação da Escola Politécnica, que será oferecida pelo Núcleo de Real Estate (NRE-Poli) como serviço para a sociedade, com o intuito de conhecer os desempenhos reais dos edifícios para criar um ambiente de conhecimento e inovação ao redor da sustentabilidade aplicada.
Wilson explica que, atualmente, no Brasil, as incorporadoras buscam certificações de origem estrangeira, que possuem algumas limitações de aplicabilidade aqui no país: “O Brasil tem que se preocupar com outras questões adicionais que não se passam nas certificações estrangeiras”, afirma. Isso diz respeito principalmente ao contraste de legislação, que envolve diferenças em licenças, requisitos legais, termos de compromisso, entre outros. Outro ponto observado foi a não comprovação do real desempenho do edifício — se o projeto é eficaz ou não — dada a inexistência do seu monitoramento após a entrega da obra. Além disso, as questões ambientais e sociais são muito mais valorizadas em detrimento das questões econômicas, enquanto que sustentabilidade seria um equilíbrio desses três pilares.
Por trabalhar em uma das incorporadoras precursoras no assunto da sustentabilidade e por ter tido estreito contato com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, o pesquisador adquiriu bastante conhecimento sobre as discussões que envolvem o assunto. Então, após revisões bibliográficas, ele propôs uma nova certificação na qual a avaliação final será feita a partir do desempenho prático do edifício. As informações operacionais — como consumo de água, de energia, fluxo de pessoas e de veículos — serão responsáveis por alimentar uma plataforma de monitoramento de dados. Ao incorporador seria devolvida uma nota atribuída ao edifício, baseada em uma escala de certificação (em que um edifício de bom desempenho teria uma nota entre 91 e 100). “Com o passar do tempo a gente vai capturar todas essas informações e criar indicadores para o mercado do real desempenho de cada edifício em função de sua tipologia”, afirma Wilson. O NRE-Poli será responsável pela aplicação desse modelo de certificação.
Com esse método e o enriquecimento de dados que ele sugere, aumenta-se a troca de ideias sobre sustentabilidade e gera-se mais base para surgirem inovações. A fim de potencializar esse compartilhamento de informação houve uma preocupação com a integração dos usuários. Wilson conta: “A empresa em que eu trabalho está instalada em um desses edifícios que possuem práticas mais sustentáveis, mas a maioria dos usuários não sabe que a água utilizada nos vasos sanitários tem aquela coloração destacada porque vem de água de reuso". Uma das ideias para efetivar essa integração é impactar o usuário no elevador e nas áreas comuns do edifício, por meio de mensagens que seriam mostradas no dia-a-dia.
Nesse momento, o NRE-Poli pensa na divulgação dessa certificação da Escola Politécnica, comunicando-se com a sociedade por meio, por exemplo, de feiras, simpósios e eventos científicos. “E como o núcleo não é só formado por docentes, mas também por pessoas que estão no mercado, como eu, pode ser uma contribuição para prospectar empresas que teriam interesse”, diz Wilson.