Novo método é validado para avaliar a função pulmonar de pacientes que tiveram a laringe completamente removida. O estudo foi realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) pelo cirurgião Mario Augusto Ferrari de Castro. O pesquisador desenvolveu uma adaptação de um dispositivo extra-traqueal adesivo e descreveu uma metodologia precisa para a realização desse tipo de exame.
Em geral, os testes de função pulmonar são feitos com um aparelho (espirômetro) que funciona através do sopro. O paciente assopra através de um bocal e a máquina consegue medir a quantidade e a velocidade do ar que sai dos pulmões. No caso de indivíduos submetidos à laringectomia total, Ferrari de Castro explica que “a via área está ‘desconectada’ da boca, uma vez que a laringe foi removida cirurgicamente e a traqueia foi implantada na pele da região anterior do pescoço”. Por isso, esses pacientes precisariam de um adaptador para que o equipamento de espirometria conseguisse encaixar-se no traqueostoma – dispositivo colocado na traqueia para permitir a entrada de ar– e possibilitar a análise da respiração.
Pensando nisso, os pesquisadores conseguiram desenvolver um disco adesivo com um encaixe plástico onde se pode acoplar o bocal do espirômetro. A partir desse equipamento, foi possível analisar a função pulmonar dos pacientes laringectomizados e concluir que a maioria deles (56%) apresenta alterações na respiração. Em muitos casos, isso se deve ao histórico de tabagismo.
Ferrari de Castro comenta que é comum que indivíduos com câncer de laringe sejam ou tenham sido fumantes, o que só reforça a importância de se conseguir avaliar corretamente a função pulmonar desse grupo. “Nos pacientes submetidos a tratamento cirúrgico, as complicações pulmonares podem levar à morte no período pós-operatório, além disso, eles podem ter que ser submetidos a outras cirurgias”, explica o médico, indicando que o método desenvolvido para a análise pulmonar será muito útil nessas situações.
A pesquisa
Para avaliar se o dispositivo desenvolvido era realmente eficaz na adaptação da espirometria, os pesquisadores selecionaram 50 pacientes que sofreram laringectomia há menos de seis meses para tratar câncer de laringe. Depois, Ferrari de Castro comenta que os pacientes foram submetidos a dois testes de função pulmonar – espirometria e pletismografia –. Em seguida, os parâmetros utilizados e os resultados obtidos foram comparados com os de um grupo de 50 pacientes não laringectomizados que fizeram exames no mesmo período.
As conclusões obtidas indicam que as pessoas submetidas à laringectomia podem realizar de maneira segura os testes de avaliação pulmonar, o que as permitirá receber tratamento correto para as doenças dos pulmões, além de possibilitar um preparo adequado para futuros procedimentos cirúrgicos. “Acredito que nossa abordagem será muito útil para os serviços que atendam os pacientes laringectomizados, visto que anteriormente o exame não poderia ser realizado ou quando era feito não era preciso ou confiável”, diz o cirurgião.