ISSN 2359-5191

29/04/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 48 - Saúde - Faculdade de Medicina
Aspectos emocionais precisam melhorar na interação entre médico e paciente
Pesquisa indica que a comunicação de más notícias não é tão eficiente nas unidades de emergência dos hospitais
Comunicação efetiva entre médicos e pacientes ajuda a estabelecer vínculos e aumenta a satisfação com o atendimento. / Fonte: reprodução

Como é o processo de contar uma notícia ruim para um paciente e seus familiares? Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e conduzido pela psicóloga Gabriela Toutin Dias tentou encontrar a resposta para essa questão. Segundo a pesquisa, há diferenças na percepção que médicos e pacientes têm sobre como as más informações são contadas nas unidades de emergência. Conforme mostram os resultados, as discrepâncias se dão principalmente nos aspectos emocionais da comunicação.

O estudo foi feito com 73 médicos residentes que atuavam na unidade médica de emergência, local que torna a comunicação de notícias ruins mais complicada, uma vez que não há vínculo prévio entre o paciente e o médico. Assim que as conversas ocorriam, um questionário era aplicado para ambas as partes. “Ele era composto por 17 questões, que avaliavam importantes aspectos, como empatia, uso apropriado de linguagem verbal e não verbal, grau de satisfação com a comunicação, entre outros”, explica Gabriela.

Enquanto os pacientes ou familiares avaliaram a maneira com que os médicos residentes contaram as notícias de maneira mais positiva, dando uma nota média de 3,7 (numa escala de 1 a 4), os próprios residentes avaliaram suas performances com uma média bem mais baixa, de apenas 2,9.  Gabriela aponta que o momento de recepção é muito marcante para quem ouve, mas também é extremamente desafiador para quem comunica, já que, na maioria das vezes, há pouco treinamento para isso. “Os residentes muitas vezes me pediam dicas de como agir, o que falar e como lidar com as reações dos pacientes ou familiares e assim eu fui percebendo que esta era uma das tarefas mais angustiantes e estressantes no dia a dia deles”, comenta a pesquisadora.

Após avaliar as respostas dos questionários, a pesquisa concluiu que os aspectos emocionais da comunicação foram os que apresentaram a maior discordância entre receptores e emissores, principalmente no que tange à empatia. Aspectos verbais e não verbais foram levados em conta, como, por exemplo, olhar nos olhos e acessar de modo efetivo o que o paciente está sentindo.

No entanto, no quesito técnico, as respostas coincidiram bastante, apresentando resultados satisfatórios de ambas as partes. “Tanto os médicos quanto os receptores perceberam que durante a comunicação de más notícias não foram utilizados termos técnicos em excesso e todas as dúvidas foram esclarecidas”, complementa Gabriela.

Com os resultados indicando quais aspectos costumam falhar na comunicação, a pesquisadora acredita ser mais fácil criar programas de treinamento para ajudar a guiar os residentes no processo de dar uma má notícia. Atualmente, os cursos de medicina oferecem pouco treinamento nesse quesito. Gabriela diz que, como alternativa, poderiam ser estruturados “treinamentos com ênfase em atividades práticas, com uso de atores e cenários de simulação realística”. Ela também aponta que o envolvimento de equipes com diferentes tipos de profissionais também pode ajudar no processo de comunicar notícias tão difíceis.

A psicóloga complementa que, dentro de um ambiente como o pronto socorro, a falta de efetividade na comunicação de más notícias se torna um problema que pode levar a consequências para ambas as partes, como depressão, estresse e dificuldades de ajustamento. Por outro lado, ela diz que “uma efetiva comunicação promove um melhor vínculo entre médico e paciente, aumentando a adesão e satisfação com o atendimento”.

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