ISSN 2359-5191

13/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 57 - Ciência e Tecnologia - Escola de Educação Física e Esporte
Pesquisa investiga a ativação do metabolismo pela cafeína
Realizado na EEFE-USP, o estudo mostrou como a ingestão do suplemento por lutadores de taekwondo aumenta a atividade da via glicolítica

A cafeína é conhecida como um meio energético comum no dia a dia das pessoas, consumida principalmente por meio do café. De fato, ela é um dos suplementos mais utilizados no mundo, responsável por diversos efeitos diferentes no corpo, principalmente durante a prática de atividade física. Pensando em explorar esses efeitos em atletas de alto rendimento de taekwondo, João Paulo Lopes, aluno de doutorado, e o professor Emerson Franchini desenvolveram uma pesquisa na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE/USP). Ao final do trabalho, puderam concluir que a cafeína é responsável pelo aumento da atividade da via glicolíticauma das vias energéticas de transferência de energia.

A pesquisa foi realizada no Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo (NAR-SP), além de contar com a ajuda do técnico de taekwondo Carlos Negrão e de atletas de alto rendimento, os quais foram submetidos a simulações de luta. Cada atleta realizou duas lutas, uma após ter ingerido cafeína e outra após ingestão de placebo, enfrentando o oponente que não havia feito ingestão de nenhuma das substâncias tanto os atletas quanto o pesquisador não sabiam qual cápsula estavam ingerindo. Durante a luta foram coletados dados como o consumo de oxigênio, frequência cardíaca e a concentração de lactato.



As expectativas eram de que a suplementação de cafeína nos atletas causasse uma melhora no desempenho das ações durante a luta. Apesar da confirmação que a cafeína resultou em maior ativação da via glicolítica se comparada ao placebo, alterações no desempenho não puderam ser comprovadas. Diante dessa questão, o professor Emerson explica que a não melhora no desempenho pode ter duas explicações: “Ou a cafeína não tem efeito para aumentar o desempenho, dado que outras vias metabólicas são mais ativadas durante a luta, ou nós não temos ainda condições adequadas para medir o que foi alterado com ela”.

Via glicolítica

Nos seres humanos a transferência energética decorre da quebra de uma molécula chamada adenosina trifosfato (ATP), que, quando fragmentada, libera energia para a contração muscular. Por sua vez, a ressíntese de ATP é feita por três vias metabólicas: via dos fosfagêneos (ATP-CP), via glicolítica e via oxidativa. É conhecido que a cafeína aumenta a atividade glicolítica, mas seus efeitos sobre o desempenho no taekwondo ainda são pouco explorados.

Já é comprovado que a cafeína é capaz de acionar mecanismos fisiológicos diferentes, por exemplo, durante uma prova de ciclismo em intensidade moderada, ela estimula a oxidação de gordura como fonte de energia. Já nos exercícios chamados de intermitentes, ou seja, que possuem um período de atividade seguido de um período de pausa, como são os esportes de luta, “os principais mecanismos são o aumento da ativação glicolítica e a diminuição da percepção de esforço, ou seja, o atleta se sente menos cansado”, comenta Lopes.

É ressaltado pelos pesquisadores o fato de não haver estudos demonstrando o aumento do desempenho na luta em situações mais complexas como as propostas, apenas em situações controladas. Além disso, Lopes explica que nas atividades intermitentes os resultados são menos consistentes, ao contrário dos reportados em exercício de longa duração. Em contrapartida, eles conseguiram notar efeitos fisiológicos da cafeína, o que os leva a crer que o desempenho em si é multifatorial e que as melhoras fisiológicas não sejam suficientes para causar uma melhora efetiva.

 

A equipe de atletas que participou do estudo (Foto cedida por João Paulo Lopes)

 

Cafeína e doping

Por um tempo a ingestão de cafeína era considerada ilegal antes de uma competição esportiva. No ano de 2004, ela foi retirada da lista de doping da The World Anti-Doping Agency (Wada), organização internacional que promove e regula a luta contra o doping no esporte.

Os pesquisadores explicam que isso é algo muito vantajoso para o atleta, pois a cafeína tende a possuir um alto potencial ergogênico, ou seja, de aumentar o desempenho, e não é considerada ilegal. Então, o atleta pode se utilizar de algo que pode vir a ajudá-lo a melhorar o desempenho e que está totalmente dentro da legalidade.

Essa decisão, porém, ainda não é definitiva. A classificação da cafeína como doping ou não ainda é estudada até hoje pela Wada, que pode voltar atrás na decisão.


* Confira o artigo aqui.

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