ISSN 2359-5191

25/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 64 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Grupo estuda alternativas para o tratamento de doenças negligenciadas
Típicas de países pobres, essas doenças recebem pouca atenção da indústria, mas atingem número expressivo da população
Imagem: Venício Ribeiro para FioCruz/Reprodução.

Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo vem estudando, há pelo menos 20 anos, moléculas que possam gerar possíveis novos remédios para as doenças negligenciadas.

As doenças negligenciadas acometem hoje mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, e recebem essa denominação porque afetam majoritariamente as populações pobres. Elizabeth Igne Ferreira, professora e coordenadora do Lapen (grupo de Planejamento e Síntese de Quimioterápicos potencialmente ativos em Doenças Negligenciadas) explica que esse termo envolve “ doenças que, por serem de países pobres, não despertam tanto interesse e hoje são consideradas como doenças que fomentam a pobreza. É um ciclo vicioso”.

Malária, tuberculose, doença de Chagas e leishmaniose são exemplos de doenças negligenciadas às quais a linha de pesquisa coordenada por Elizabeth se dedica. Embora atualmente a tuberculose e a malária venham recebendo maior atenção de pesquisadores e mais investimentos, a professora pondera que ainda não há uma variedade de alternativas para o tratamento dessas doenças e que, por isso, ainda podem ser vistas como negligenciadas.

Para o tratamento da doença de Chagas, por exemplo, há apenas dois medicamentos e só um deles disponível no Brasil. Elizabeth pontua, ainda, que esse medicamento, o benznidazol, é mais ativo na fase aguda da doença, mas a parasitosa pode ficar silenciosa por muitos anos, na chamada fase crônica.

“A nossa pesquisa é fundamental porque é o primeiro passo”

Elizabeth estuda a malária desde o início da década de 1970, quando ainda estava na graduação. Ela explica que quem introduziu a linha de pesquisa das doenças negligenciadas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas foi o professor Andrejus Korolkovas, que à época era titular da disciplina de Química Farmacêutica.

A partir da década de 1990, a professora passou a se dedicar a outras doenças, como Chagas e leishmaniose e, mais tarde, à tuberculose. Assumiu a coordenação da linha de pesquisa em 1996.

A pesquisa realizada no Lapen consiste em buscar moléculas promissoras para o tratamento das doenças. Esse trabalho é o primeiro passo para a produção de um fármaco: a partir da descoberta ou do planejamento da molécula, grupos associados de pesquisa em outras áreas   passam a estudá-la, fazer os testes em animais e, por fim, em humanos. O processo é bastante longo. Elizabeth explica que “para se ter um novo fármaco no mercado são necessários em torno de 15 anos de pesquisas intensas”.

O grupo tem duas frentes de pesquisa, a incremental e a radical. A pesquisa incremental, que é a mais utilizada, consiste em otimizar moléculas das quais já se sabe a importância. Ou seja, partindo de dados da literatura, os pesquisadores fazem modificações nas moléculas para que se tornem melhores, menos tóxicas, por exemplo. A pesquisa radical se trata da busca de moléculas inteiramente novas, a partir de características do parasita ou das células afetadas que se quer atingir.

A molécula que é a “menina dos olhos” do grupo de pesquisa chama-se hidroximetilnitrofural, sintetizada por Chung Man Chin, orientanda de doutorado de Elizabeth à época, está em estudo há mais de 20 anos. Bastante promissora, a molécula vem sendo testada desde então por diversos grupos de pesquisa em doenças negligenciadas como, especialmente, a Doença de Chagas. Com atividade leishmanicida potencial, há, também, indicativos de ação em malária e tuberculose.

Interesse pelas doenças negligenciadas

Elizabeth acredita que, desde que começou a estudar as doenças na década de 1970, houve um aumento importante no interesse pela pesquisa na área. Alguns fatores contribuíram para essa evolução.

Com os avanços tecnológicos de transporte, hoje as doenças migram para outros países mais facilmente. A professora exemplifica que a doença de Chagas, que era privativa da América Latina, já atinge o Canadá, sul dos Estados Unidos, Austrália e Europa. A partir do momento em que há a manifestação da doença nesses locais, se desenvolve uma preocupação maior a respeito.

Além disso, a indústria farmacêutica sofreu com uma crise de inovação nas últimas décadas desencadeada por uma série de fatores como as grandes fusões que diminuíram o número dos grupos de pesquisa. E, como resposta, passou a buscar a universidade em um programa chamado open innovation, que consiste em firmar parcerias com as pesquisas produzidas no meio acadêmico. Abrem-se as grandes bibliotecas da indústria para os pesquisadores e há oferta de financiamento dos grupos de pesquisa.

Um terceiro fato que a pesquisadora aponta é o aspecto social das indústrias: a posição das grandes empresas farmacêuticas em ter a preocupação de contribuir com as questões sociais é fenômeno recente. Esta preocupação abre espaço para que grupos que estudam doenças negligenciadas recebam apoio para a produção científica.


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