Peças proibidas pela censura do estado de São Paulo e presentes no Arquivo Miroel Silveira, da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP), são trazidas à leitura pública pelo projeto Censura em Cena. Essa é uma iniciativa do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da ECA-USP, que pesquisa o Arquivo desde 2002, em parceria com o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo.
A peça escolhida na última leitura, no dia 21, foi Quarto de empregada, de Roberto Freire. A obra retrata a vida de duas empregadas, Rosa, uma cozinheira negra, e Suely, uma jovem copeira branca. Ambas vivem em um mesmo quarto, cenário utilizado pelo autor para representar o conflito de classes.
Quarto de empregada foi escrito em 1958 e teria sua estreia em setembro do mesmo ano, quando foi proibida pela censura. Mesmo assim, a peça, que seria a prova final dos alunos da Escola de Artes Dramáticas (EAD) de São Paulo, foi encenada em um pequeno teatro da EAD para um público restrito formado por professores, alunos e membros da classe teatral.
Para Renata Pallottini, coordenadora das leituras dramáticas do Censura em Cena, projetos como este são importantes para tornar públicas as peças vetadas e lembrar da existência da censura. “É uma forma de lutar contra a censura, é uma forma de compreender e aceitar que as produções artísticas, sejam elas quais forem, devem ser respeitadas”, explica.
Renata, quem também é dramaturga, afirma que, na época dos processos do Arquivo, não era possível montar uma peça em público sem que houvesse a liberação da censura. “Eles estudavam o texto e ou liberavam, porque achavam que não tinha nenhum problema, ou pediam modificações, ou proibiam sumariamente”, explica.
De acordo com a professora Maria Cristina Castilho Costa, coordenadora do Censura em Cena, ainda existe censura nos dias atuais, que se manifesta de diferentes formas. “Mesmo com o fim dos órgãos de censura em 1988, há uma censura indireta devido aos altos custos para se produzir uma peça e patrocinadores que influenciam o que vai ou não ao palco”.
Censura e pesquisa
Quarto de empregada faz parte do Arquivo Miroel Silveira, pertencente à Biblioteca da ECA-USP. Ele reúne processos de censura prévia ocorridos entre 1930 e 1970. O nome do acervo é uma referência ao professor que resgatou esses documentos do Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo.
O Arquivo Miroel Silveira é estudado pelo Obcom. A professora Maria Cristina explica que, desde 2000, professores e alunos de graduação, mestrado, doutorado e iniciação científica pesquisam como se deu a censura naquela época.
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