“Porquê o Brasil não inova?” é o título e o principal questionamento promovido em artigo da última edição da RAI - Revista de Administração e Inovação, publicação da Faculdade de Economia e Administração da USP. Por meio de uma coleta de dados relacionados à tecnologia e economia de 33 países, Karen Esteves, mestre em Administração pela FEA-USP e autora do artigo, juntou diferentes variáveis que podem se relacionar positivamente ou negativamente com os índices de inovação mundiais.
A inovação tecnológica é um dos principais fatores para que um país deixe o subdesenvolvimento e passe a ter maior rendimento da sua capacidade produtiva total e posição de vantagem na balança comercial, além de melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes.
De acordo com o artigo, a invenção e as descobertas científicas não ocorrem mais como no passado, em que eram associadas a nomes específicos - como Graham Bell na telefonia e Fleming na descoberta da penicilina - sendo agora resultados de esforços conjuntos de equipes direcionadas a áreas cada vez mais pormenorizadas da ciência, e em grande parte dos casos com o custeamento ou apoio por grandes empresas, ressaltando a importância de uma atmosfera favorável ao empreendedorismo.
Assim, a pesquisadora Esteves coletou dados a partir do Índice Global de Inovação, criado pela Universidade Cornell, Insead e Wipo, que ranqueia 142 países pelo nível de inovação. Além disso, coletou indicadores econômicos e sociais por instituições como o FinanciaL Times, o Banco Mundial e a OECD (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico - EUA).
Créditos; Dano/Flickr
Após a análise destes dados, foi possível encontrar as variáveis mais importantes para determinar a nota de um país no Índice: o PIB per capita, investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento, exportação de bens de alta tecnologia e investimentos públicos em educação. “Assim, é possível fortalecer o papel do governo em questões de inovação, visto que ele pode tentar criar um ambiente econômico que seja propício ao desenvolvimento de inovação”, declara Karen.
Um dos pontos mais surpreendentes descobertos pela análise é a falta de correlação entre o número de patentes e o nível de inovação. Ao contrário do que se acredita em grande parte do meio acadêmico, o registro de patentes não leva a uma verdadeira evolução tecnológica em um país.
Apesar do país não se destacar no Índice (0,51, ou seja, pouco mais da metade da primeira colocada Suíça), esses rankings não deveriam ser utilizados para traçar críticas à administração federal, de acordo com a pesquisadora. “Não se pode esquecer que, como país emergente cuja economia se baseia basicamente na exportação de produtos primários, o Brasil começou apenas recentemente a investir numa base industrial mais sólida”, afirma.
O país se destaca entre os Brics - grupo de países em desenvolvimento formado por Brasil, Rússia, Índia e China - pelo maior investimento na educação, porém ainda figura atrás de China e Índia, que importam um número maior de bens de alta tecnologia, o que sugere que incentivos comerciais à indústria de manufaturados com qualidade competitiva, assim como sua venda para outros países.
Karen acredita que o sistema educacional brasileiro tem melhorado nos últimos anos, apesar dos recentes cortes, e que programas como o Ciências sem Fronteiras são importantíssimos para que o atraso tecnológico atual seja superado, já que colocam estudantes brasileiros em contato com países com maior nível de inovação. “Porém, acredito que o Brasil ainda carece de técnicos. A mão-de-obra técnica parece ser um pouco negligenciada no país e é importante que haja um número maior de técnicos para que o Brasil possa avançar na questão da inovação".
O artigo completo pode ser lido no Portal de Revistas da USP.