Pesquisadores da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo estão desenvolvendo uma pesquisa que une o estudo da halitose à análise das vantagens e desvantagens de um tipo específico de prótese dentária, feito de material termoplástico. O objetivo é verificar se essa prótese causa mais ou menos mau hálito nos pacientes em relação à prótese convencional.
A pesquisa utiliza o Oralchroma, um aparelho capaz de identificar, quantificar e separar os 3 principais gases produzidos pelo organismo e exalados pela boca. Segundo o pesquisador Roberto Stegun, o equipamento facilita a pesquisa porque elimina as dificuldades de lidar com um assunto que tende a constranger as pessoas. “Quando alguém tem halitose, é muito difícil as pessoas falarem. Com essa máquina, eu não preciso saber se você tem mau hálito ou não, eu já atinjo direto o diagnóstico”, ele afirma.
A causa mais comum da halitose é a saburra — a camada branca que muitas pessoas têm sobre a língua. Por isso, a recomendação usual para quem sofre com esse problema é a higienização da boca, que nem sempre soluciona o incômodo. Os gases presentes no hálito podem vir de três locais diferentes: a própria boca, o estômago e os pulmões. Apesar de o primeiro caso ser o mais comum, os outros dois não podem ser ignorados. Stegun justifica: “Às vezes, o paciente escova os dentes muito bem, mas o mau hálito vem da língua ou da prótese. Nesse caso, a solução seria mergulhar a prótese num produto específico”. Quando os gases vêm do estômago ou dos pulmões, o indicado é encaminhar o paciente a um profissional dessas áreas.
A pesquisa é um projeto de iniciação científica que complementa estudo realizado na FOUSP sobre a viabilidade da prótese termoplástica. Trata-se de uma prótese sem metal e pedida pelos pacientes por ser visualmente mais agradável. A convencional é feita sobre uma base metálica, o que tende a incomodar o usuário.
Para verificar se a prótese termoplástica causa mais mau hálito que a convencional, os pesquisadores se propõem a fazer medições em dois grupos de pacientes, divididos de acordo com o tipo de prótese que utilizam. Nos casos em que a máquina detectar que os gases não são provenientes da boca, os pacientes serão orientados a fazer uma avaliação com profissionais como gastroenterologistas ou otorrinolaringologistas. Segundo Stegun, essa é uma das funções do estudo: “Toda pesquisa deve visar não só conhecimento, mas também um benefício à sociedade”.
Nos pacientes em que a halitose tiver origem na boca, ainda é necessário saber se o problema vem do próprio paciente ou da prótese. Para isso, será utilizado um produto à base de dióxido de cloro que diminui a saburra na língua. A medição será feita em duas etapas: com a prótese antes do uso do produto e sem a prótese e depois de utilizar o produto. Caso os valores sejam os mesmos, o mau hálito vem da boca do paciente. Caso o segundo seja menor, considera-se que a prótese seja a causa da halitose.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a halitose afeta cerca de 40% da população mundial. Após a finalização da pesquisa, a máquina pode ser utilizada em outros estudos sobre a doença, sob diferentes abordagens e beneficiando essa parcela da sociedade.