A ação antiúlcera de uma planta muito utilizada popularmente é o objeto de tese de doutorado de Flávia Sobreira, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Com a orientação da professora Elfriede Marianne Bacchi, Flávia estuda as propriedades da Kalanchoe pinnata.
Popularmente chamada de courama-vermelha ou folha da fortuna, a planta é nativa da África e se desenvolve em solos úmidos e climas quentes, bem adaptada ao Brasil. A Kalanchoe pinnata é utilizada pela população como remédio para tratamento de diversas doenças como infecções, inflamações e diarreia, nas formas de suco, chá e macerada. A pesquisadora pontua que já existe na literatura estudos que indicam que a planta não tem potencial tóxico e pode ser utilizada por humanos. Porém falta comprovação de suas atividades terapêuticas. “A população utiliza muito essas plantas, mas não tem muito embasamento científico. Utiliza pelo conhecimento tradicional”, conta a pesquisadora.
Flávia escolheu estudar a planta, desde o seu mestrado, avaliando se as atividades antiúlcera e cicatrizante existem e como isso ocorre. Além disso, ela explica que outro fator que motivou a estudar a planta é que a Kalanchoe pinnata é uma das 71 espécies que estão na lista de plantas medicinais de interesse para o SUS, a Renisus, por seu potencial terapêutico. “Realizamos a pesquisa para um dia se tornar um medicamento. A fase que realizamos é a pré-clínica, estudando a atividade em animais”, aponta.
No projeto de doutorado, as amostras da planta são cedidas pelo CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas) da Unicamp e, através de processo de extração a frio, é produzido um extrato das folhas que concentra os princípios ativos da Kalanchoe pinnata. Em seguida, esse extrato é administrado a ratos de laboratório. “Os animais ficam em jejum, primeiramente administramos o extrato e depois administramos o indutor de úlceras, o etanol acidificado”, explica Flávia. “Esse experimento é para ver se há uma gastroproteção, ou seja, a proteção da mucosa gástrica”. Uma outra etapa é avaliar se a planta tem poder cicatrizante, para isso os pesquisadores fazem uma cirurgia nos animais e induzem a úlcera. No dia seguinte, iniciam tratamento com o extrato, por via oral, por sete dias.
Os resultados obtidos, após três anos de estudos, são promissores. Uma vez verificada a atividade antiúlcera, os mecanismos de ação o através dos quais isso ocorre estão sendo investigados. A pesquisadora aponta para a grande presença dos flavonoides como um possível fator relacionado com essa atividade.
A última etapa do estudo é testar a citotoxicidade do extrato, ou seja, testar se esse extrato é pode levar à morte das células. O método utiliza células isoladas de camundongos e evita que se utilize os animais nessa fase do estudo.