Pesquisadoras na Faculdade de Odontologia da USP estudam um novo método para enriquecer populações de células-tronco de forma a viabilizar seu uso clínico. Esse método permitiria que tratamentos de canal fossem feitos de forma a manter viva a polpa dentária – popularmente conhecida como “nervo” do dente.
A pesquisa é parte dos estudos realizados no Laboratório de Biologia de Células-Tronco em Odontologia (Labitron), coordenado pela professora Marília Trierveiler. Nele, são executadas pesquisas sobre células-tronco de diversos tecidos da boca. A pesquisadora Cibele Pelissari focou sua pesquisa nas células da papila apical, um tecido presente na raiz do dente apenas enquanto ele está em formação. “Por ser um dos tecidos que ajudaram na formação da polpa dentária, acreditamos que a papila apical seja mais adequada para esse uso clínico”, afirma a pesquisadora.
A papila apical é um tecido mesenquimal e uma das suas propriedades é possuir células com capacidade de diferenciação. Isso significa que elas se alteram para dar origem a outras células com outras funções. A regeneração da polpa dentária se baseia justamente nessa propriedade: células da papila apical do próprio paciente seriam responsáveis por refazer a polpa. Essas células, durante a pesquisa, foram retiradas do terceiro molar (o dente do siso) em fase de formação. O procedimento atual dos tratamentos de canal é retirar todo o tecido lesionado e substituí-lo por um material artificial. A regeneração é interessante porque visa refazer a polpa dentária, que é a parte viva do dente.
O método de enriquecimento
Enriquecer populações de células-tronco significa separar as células que têm características interessantes para um fim específico das outras células de determinado tecido. Atualmente, essa separação é feita com o uso de anticorpos, e as pesquisadoras sugerem que esse método pode não ser o mais adequado para o uso clínico porque não existe um anticorpo específico para células-tronco.
Em contrapartida, o método sugerido é baseado em outra propriedade das células-tronco mesenquimais: a migração. Essa propriedade é o que permite que as células saiam do seu nicho (o lugar em que elas se encontram – neste caso, a papila apical) e migrem para o local onde elas são necessárias – uma lesão, por exemplo.
A migração é possível porque o corpo produz uma sinalização tecidual, um aviso para que as células saibam que são necessárias em outro local do corpo. A pesquisa se propõe a manipular essa sinalização em laboratório para selecionar apenas as células-tronco interessantes à regeneração da polpa dentária e, consequentemente, ao uso em pacientes. “O que a gente busca é que cada vez mais o uso dessa célula esteja próximo da clínica”, afirma Pelissari.