A ideia do projeto de Danilo Lessa, aluno de graduação do Instituto de Física da USP, surgiu enquanto ele esperava o ônibus da EMTU para Cotia. Cansado de passar nervoso com a falta de pontualidade dos ônibus, ele coletou dados das linhas de ônibus de São Paulo e criou um site que ajuda o usuário a se informar quanto aos detalhes da sua linha, como tempo de viagem e velocidade mediana, o Olho Vivo . Esse foi o tema para o trabalho final de uma das suas disciplinas, ministrada pelo professor Zwinglio de Oliveira Guimarães Filho, que tem como objetivo apresentar técnicas e teorias para análise de dados experimentais na física.
Alguns números do trabalho:
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A pesquisa consiste em coletar os dados das posições de todos os ônibus da SPtrans a cada 3 minutos, e analisar as estatísticas afim de responder algumas perguntas. O objetivo era entender alguns pontos iniciais como “que hora que o ônibus chega mais rápido”, “que horas é possível pegá-lo para chegar mais rápido no destino”, “qual o tempo de viagem e velocidades médias”. Quanto ao seu método de pesquisa, ele respondeu que “explorava os dados ao mesmo tempo que imaginava meios de como utiliza-los para responder minhas perguntas”. A coleta foi realizada por meio de um programa de computador escrito pelo aluno, e rodado continuamente por um mês e meio.
Ao todo, Danilo coletou cerca de 80 milhões de dados, identificando 14.712 ônibus ativos, que operam com uma velocidade mediana de 13 km/h, num tempo de viagem de aproximadamente 45 minutos e em 2.689 de linhas ativas.
Com relação aos resultados obtidos, Lessa os distingue entre esperados e não esperados. Dentre os esperados, o aluno destaca os dados sobre as viagens em horários de picos, em que as velocidades são mais baixas e as viagens mais longas. Ao montar um gráfico com tais resultados, o pesquisador conseguiu quantificar que o tempo de viagem dos horários do meio da tarde é por volta de 47 minutos, enquanto que nos horários de pico no final da tarde, esse tempo de viagem médio sobe para 57 minutos.
Quanto aos resultados inesperados, Lessa comparou as velocidades, nos horários de picos, de dois tipos de linhas da região central de São Paulo, as com sentido de ida (rumo ao centro) e as de volta do trabalho. O esperado seria que a linha sentido centro tivesse velocidade mais baixa durante a manhã, e que a sentido volta fosse mais lenta no final da tarde. No entanto, não foi isso que o pesquisador encontrou. Ao calcular a diferença entre as velocidades de ida com as medianas por hora do dia, e colocar os resultados num gráfico, Lessa descobriu que as linhas de ida têm a tendência de serem mais rápidas sempre, independentemente do período do dia. “Quando estão pra cima, quer dizer que a velocidade de ida são mais rápidas, e quando estão para baixo significa que as volta são mais rápidas. O que o gráfico informa é que as de ida são sempre mais rápidas, como se não existisse bem um horário de pico”, explica o aluno.
Além disso, ele começou a coletar os dados das linhas de ônibus municipais da EMTU, mas ainda não os analisou. Um de seus objetivos, entretanto, foi deixar esses dados o mais aberto possível, para que outros pesquisadores se inspirem em seu projeto e os utilizem para refutar ou afirmar alguma tese. Lessa deixou hospedado no site todo o código utilizado para análise e coleta dos dados, justamente para que alguém que queira fazer alguma extensão, tenha acesso. Você pode acessá-los por este link: http://soc.if.usp.br/~danlessa/olhovivo.html.