A corrida ganha cada vez mais adeptos no mundo. Seja na esteira ou ao ar livre, correr traz muitos benefícios para quem o pratica e melhora a qualidade de vida. Nesse sentido, as marcas esportivas lançam diversos produtos para auxiliar os corredores, desde roupas e acessórios, até diversos tipos de tênis. Um calçado que está ganhando cada vez mais espaço no mercado é o minimalista. O aluno de doutorado Roberto Casanova está desenvolvendo uma pesquisa na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE/USP), na qual busca comparar e entender os efeitos dos calçados esportivos tradicionais e dos minimalistas em atletas de corrida.
O tênis minimalista difere do tênis comum em diversos pontos, como, por exemplo, ter o chamado “drop zero”, ou seja, não há diferença de altura entre a entressola, a parte da frente e a de trás do calçado. Além disso, eles não têm controle de movimento e não possuem sistema de amortecimento, comuns nos outros tipos de calçado esportivo. Muitas marcas conhecidas já possuem modelos desse tênis, como a New Balance, Nike e Vibram – que possui em seu catálogo o tênis “Five Fingers”, um calçado que simula muito bem o descalço.
Entre os dois tipos de calçados, ambos indicados para a prática esportiva, fica uma dúvida de qual é capaz de trazer um melhor desempenho para o atleta. Roberto explica que é exatamente esse ponto que a pesquisa procura investigar: “O calçado minimalista pode ter diversas vantagens em relação ao calçado esportivo com sistema de amortecimento, mas será que isso repercute mesmo em desempenho para o atleta?”
Um modelo do tênis Five Fingers da marca norte americana Vibram
Etapas da pesquisa
O estudo possui quatro etapas e conta com aproximadamente 14 corredores não profissionais, que foram recrutados através da Corpore (entidade que organiza eventos de corrida na cidade de São Paulo). Roberto explica que esses voluntários precisaram se enquadrar em alguns critérios de inclusão, por exemplo: ter idade entre 18 e 45 anos, não ter sofrido lesões musculo-esqueléticas nos últimos seis meses e ter tempo de provas de 10km entre 32 e 45 minutos, o que representa um bom rendimento. Além disso, era necessário ser corredor de retropé, ou seja, ao correr apoia primeiro o calcanhar no solo.
Na primeira etapa, feita no laboratório, Roberto e sua equipe fizeram avaliações antropométricas nos atleta, ou seja, estabeleceram as medidas e dimensões de diversas partes do corpo, como também a porcentagem de gordura corporal e o consumo de oxigênio. Posteriormente, na segunda e terceira etapas, os atletas correram na pista de atletismo e realizaram um teste contrarrelógio de 3km, com cada um dos dois tipos de calçado esportivo. Por fim, a quarta etapa foi realizada em laboratório e foi feito o registro da atividade elétrica dos músculos (EMG) e o consumo de oxigênio para determinação da economia de corrida.
A pesquisa ainda está sendo desenvolvida, mas Roberto aponta que a principal hipótese é de que o calçado minimalista teria um melhor desempenho em relação ao calçado esportivo tradicional. Ele explica que alguns estudos demonstraram que a corrida descalça pode diminuir a incidência de lesões, pois modifica a mecânica da corrida de retropé para antepé, ou seja, ao correr passam a apoiar a ponta do pé primeiro no solo, ao invés do calcanhar. Além disso, essa condição é capaz de modificar o acúmulo e a distribuição de energia durante a corrida: “A corrida de antepé, na condição descalça, causa uma melhor restituição e armazenamento da energia elástica”, o que possibilita uma maior economia de corrida.
Se comprovada a hipótese, a pesquisa mostrará mais benefícios do calçado minimalista. Além de diminuírem a incidência de lesões e aumentar a economia de corrida, podem melhorar também o desempenho. Esse resultado é importante não só para os atletas profissionais, mas para todos aqueles que fazem da corrida algo rotineiro. Mas, por ser muito diferente do tênis com amortecimento, é necessário cautela ao começar a usar o calçado minimalista.