ISSN 2359-5191

21/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 80 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Microbiota variada pode ser sinônimo de saúde
Estudos correlacionam variedade de bactérias presentes no corpo humano com a vulnerabilidade a doenças
Pesquisador utiliza método eficiente para estudar a microbiota de pessoas com periodontite/ Fonte: reprodução

Nos últimos dez anos, com o avanço e o barateamento da tecnologia, intensificaram-se as pesquisas sobre a microbiota, denominação dada ao conjunto de seres microscópicos que vivem juntos, como os diversos conjuntos de bactérias que existem no ser humano. Um adulto é composto de, aproximadamente, um trilhão de células suas no corpo e, no entanto, possui entre um e cinco trilhões de células bacterianas. Todas as células humanas possuem o mesmo genoma, porque vieram de uma única célula inicial, enquanto as diferentes bactérias que existem no ser humano têm genes diferentes.

Os estudos atuais se focam em entender que influência têm os conjuntos de genes bacterianos e as diferentes microbiotas na saúde humana. Há a hipótese de que a microbiota das diversas partes do corpo esteja relacionada com saúde: quanto mais variada, melhor. John McCulloch é pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo e explica que “há evidências extremamente fortes de correlação [da microbiota com as doenças], e agora a maior parte dos estudos está se concentrando na causalidade”. McCulloch cita estudos com obesidade, que revelam diferença entre a microbiota das pessoas obesas e das não obesas. Aponta, ainda, que em pessoas com algumas condições fisiológicas semelhantes, as microbiotas são semelhantes entre si.

A pesquisa de McCulloch se concentra no estudo da periodontite, uma inflamação do tecido no qual o dente se insere na gengiva. As causas da periodontite, explica, são pouco conhecidas, porém sabe-se que existem fatores de risco, como fumar, ter diabetes e o uso de antibióticos. O pesquisador busca entender a relação entre as bactérias existentes na boca de  pacientes saudáveis e daqueles com a doença: “O que estamos tentando pesquisar agora é quais espécies bacterianas, e em quais concentrações, correlacionariam com a periodontite”.

Classicamente o estudo de microbiologia é feito através de um método criado por Louis Pasteur, no qual uma amostra que contém bactérias é colocada em um meio de cultura que contém nutrientes para o desenvolvimento. No entanto, esse método permite estudar apenas 1% de todas as bactérias existentes na amostra, porque desenvolvem-se somente as que se conseguem replicar no meio nutriente. A grande maioria é perdida. O método com o qual McCulloch trabalha nas pesquisas utiliza tecnologia para analisar as sequências genéticas de todas as bactérias e, assim, abrange a totalidade delas.

São retiradas amostras da placa bacteriana em pessoas com periodontite, tanto dos dentes afetados pela doença quanto dos dentes saudáveis, para que a análise evidencie que a diferença entre as microbiotas não é algo particular à pessoa, mas característica inerente à doença. Há, ainda, o grupo controle, formado apenas por indivíduos saudáveis, dos quais também são retiradas amostras de placa bacteriana. Esta pesquisa é feita em parceria com a Universidade de Guarulhos (UNG).

As amostras são analisadas por programas de computador que catalogam cada espécie de bactéria presente em cada uma das amostras, através de informações de bancos de dados internacionais. O sistema compara o que foi encontrado com o que já se conhece e, então, informa ao pesquisador quais as espécies conhecidas e desconhecidas de bactérias presentes nas amostras e, ainda, quais são patogênicas (que causam doenças) e quais não são.

A análise permite ao pesquisador visualizar a diferença entre as microbiotas das pessoas saudáveis e das que possuem periodontite, estabelecendo a correlação entre elas e a doença. McCulloch explica que essa forma de pesquisa, além de ser mais eficiente que o método tradicional, pode gerar uma alternativa de tratamento. “Como eu tenho todos os genes de todas essas bactérias [patogênicas], poderia reconstruir as vias metabólicas, entender porquê crescem em conjunto com as outras e eventualmente desenvolver um probiótico que inibiria o crescimento apenas dessas bactérias que causam doenças”, explica.

Isto geraria uma forma mais eficiente de lidar com as doenças, direcionando o tratamento e afetando apenas as bactérias causadoras de doença. McCulloch explica que o uso de antibióticos, como vem sendo feito nos últimos setenta anos, objetiva matar o agente infeccioso, mas acaba matando todas as bactérias, inclusive as que não causam doenças. “Isso traz uma consequência muito grave para a microbiota saudável dos indivíduos”, afirma. Depois do uso de antibióticos, a microbiota não volta a ser como era antes, há uma perda da diversidade e, por consequência, um aumento da vulnerabilidade, uma vez que “a diversidade parece ser a chave para impedir a colonização por outros organismos patogênicos”.

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