ISSN 2359-5191

27/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 84 - Arte e Cultura - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Artigo analisa projetos de recuperação e reintegração urbana de áreas abandonadas
Mestrando de Arquitetura utiliza exemplos nacionais e internacionais
Fonte: Cidadesaopaulo.com

Em texto publicado na última edição da Revista LabVerde, veiculada pelo Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o mestrando Tiago Brito utilizou exemplos de projetos de revitalização - relacionando experiências internacionais como High Line Park e Stratford Olympic Park com parques brasileiros(Villas-Boas e Victor Civita)-  para retratar o problema da degradação de áreas urbanas centrais.


O texto aborda a declínio de atividades industriais em grandes metrópoles a partir da década de 70, período em que as grandes fábricas se moveram para regiões exteriores e o centro das metrópoles passou a se dedicar ao comércio e prestação de serviços. Esta mudança de organização resultou no abandono de vários territórios centrais que antigamente eram utilizados para fins industriais.


Estes locais marcados por seus antigos usos e possivelmente contaminados são denominados brownfields, de acordo com a associação Cabernet. Eles são encontrados principalmente em áreas urbanas e possuem potencial de reuso, a partir de uma intervenção apropriada.


“Estes lugares aparentemente abandonados estão diretamente relacionados ás memórias do passado que se sobrepõem ao cenário presente”, explica Tiago. “Mesmo quando localizados em regiões centrais do território, não atraem a população dos arredores, que consequentemente não desenvolvem laços de afetividade e vizinhança nestes locais.”



O High Line Park, de Nova York, foi construído sobre uma linha de metrô ao céu aberto que havia sido desativado(Créditos: Timeout.com)


Embasamento Teórico


Tiago lança de mão de dois diferentes conceitos teóricos: os terrain vagues  de Solà-Morales e a Terceira Paisagem de Gilles Clément. Terrain Vagues ~são áreas indefinidas, ambíguas, vazias, vagas, improdutivas e, em muitos casos, obsoletas, sem delimitações claras de território, como áreas industriais abandonadas, áreas de linhas férreas desativadas ou subutilizadas, espaços residuais, edifícios deteriorados. Estas áreas porém, apresentam potencial de reconstrução e uma oportunidade única de diálogo entre passado e presente. Já a Terceira Paisagem é esultado da ação biológica sobre territórios após seu abandono, sem interferência humana. Apresentam-se como refúgios urbanos para a biodiversidade e lugares propícios para a construção de parques naturais, como no caso da praça Victor Civita.


Projetos Internacionais


Com base nestas teorias, Tiago defende que os brownfields são espaços com grande importância na revitalização urbana. Porém, apenas em meados do século 20 começaram a haver trabalhos de intervenção nestes territórios. Um dos mais antigos e célebres é o Gas Works Park, inaugurado em 1975 na cidade americana de Seattle, de autoria do arquiteto Richard Haag.



Richard Haag incluiu partes da antiga usina para criar um contraste entre passado e futuro no parque(Créditos: TripAdvisor)



O espaço serviu como sede de uma companhia de gás entre 1906 e 1956, até ser abandonada e depois comprada pela prefeitura da cidade. Porém foi necessário realizar um trabalho de descontaminação, pois seu solo tinha sido afetado pelo processos industriais que ocorriam na usina. Foram utilizadas enzimas, para degradar o óleo presente no solo, e matéria orgânica ,para o crescimento de microorganismos que por sua vez fertilizaram o solo e causaram uma quebra natural de contaminantes.  


Na Alemanha, mais precisamente em Duisburg, o Landschaftspark foi construído a partir de um terreno que até 1985 tinha servido como fábrica de carvão e aço e deixado em condições extremamente poluídas. Após cerca de 12 anos de intervenção, o parque foi inaugurado em 2002. Uma das inovações do projeto foi a inclusão de processos naturais de erosão e o crescimento espontâneo de vegetação como componentes paisagistas do parque, o que ilustra bem o conceito de Terceira Paisagem, mantendo os custos de manutenção baixos e favorecendo o equilíbrio natural da composição do ambiente.


Exemplos Nacionais


No Brasil, um dos projetos de destaque na área é o Parque Villa-Lobos, que até 1989 era um depósito de resíduos para a Ceagesp em sua porção oeste, um acúmulo natural de material do Rio Pinheiros em sua porção leste e um depósito de construção civil em sua porção central. Todas essa atividades deixavam o terreno significativamente poluído. Porém, após a revitalização da área, que durou cerca de 5 anos, o parque foi aberto ao público.


Como processo de preparação do terreno, foram retirados do local 500 mil m³ de entulho e movimentados 2 milhões de m³ de entulho e terra para acerto das elevações existentes. O córrego Boaçava, que passa pela área, foi canalizado. Mas ao invés do Landschaftspark, o problema da contaminação não foi abordado, e as potencialidades da área vizinha não foram exploradas.


“Este tipo de tratamento não garante a descontaminação do solo. Além disso, a destinação do material retirado do terreno e o entendimento de suas dinâmicas naturais, como incorporar um córrego de forma naturalizada ao projeto, fazem parte dos princípios do Desenho Ambiental”, afirma Tiago.




Projeto da Praça Victor Civita também possui falhas(Créditos: TripAdvisor)

Já a praça Victor Civita ocupa o terreno onde residia a Incineradora Pinheiros, conhecida como Sumidouro, onde eram processados resíduos domiliciares e hospitalares, e depois por cooperativas de reciclagem que recebiam cerca de 200 toneladas de lixo por dia. Após uma parceria entre a vizinha do terreno, a Editora Abril, e a prefeitura de São Paulo, foi implantado um projeto com autoria Adriana Levisky e Anna Julia Dietzsch.


Hoje em dia, o local abriga programação cultural, esportiva e educacional, contando com um museu, um centro de integração para idosos e uma arena coberta. Porém o projeto falha em realmente descontaminar o solo, utilizando de decks elevados para impedir o contato do visitante com o terreno. Além disso, o projeto não se utiliza dos processos naturais nem das áreas livres vizinhas para seu proveito.


“O Brasil sofre com um atraso no tratamento paisagístico de áreas abandonadas e contaminadas e percebe-se que é necessária a mudança de paradigmas projetuais no país, através da aplicação dos princípios de Desenho Ambiental”, diz Thiago. Para ele, o artigo é uma provocação aos autores de novos projetos, para que ”explorem e proponham uma nova forma de relação entre o meio antrópico e o meio natural, traçando caminhos adequados à nossa realidade e desejos em concordância com os sistemas naturais”.


Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br