ISSN 2359-5191

01/07/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 88 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Fluxo de agentes contaminantes em aquíferos é investigado por pesquisadora
Desenvolvido no interior de São Paulo, estudo pode trazer benefícios ao abastecimento de água
Exemplo dos resultados obtidos através das perfilagens geofísicas no poço de monitoramento. Fonte: Aline Fanti.

A utilização de águas subterrâneas é uma alternativa importante no abastecimento público de água nas cidades brasileiras. Porém, muitas vezes, ações humanas podem causar a contaminação de alguns aquíferos, o que impossibilita o uso da água desses locais. Com o intuito de investigar como se dá o fluxo de água e o transporte de contaminantes no Aquífero Cristalino da região de Valinhos, no interior de São Paulo, a pesquisadora Aline Fanti desenvolveu sua dissertação de mestrado.

A região estudada apresenta, na parte superior, um aquífero raso no qual o fluxo de água se dá através da porosidade entre seus grãos. Já na parte inferior está localizado o aquífero fraturado (ou cristalino), que possui matriz em uma rocha de baixa porosidade intergranular e, por isso, a água corre por meio de suas fraturas. O estudo da pesquisadora do Instituto de Geociências foi realizado neste segundo tipo, onde o comportamento dos contaminantes pode ser totalmente diferente do que no aquífero poroso.

Após executar uma pesquisa a respeito de trabalhos e mapeamentos geológicos já realizados e que abordam a mesma localidade, Aline fez a perfuração de dois poços e, em seguida, diversas perfilagens nas rochas — de raios gama, calibre, acústica (denominada HRAT — High Resolution Acoustic Televiewer), além da perfilagem com o equipamento Flowmeter e da filmagem dos furos. Através delas foi possível obter o registro de informações a respeito de diversas propriedades físicas das fraturas, como seu ângulo, direção (que dita o caminho percorrido pela água na rocha) e atividade hidráulica, que está relacionada com a passagem ou não de água pela fratura, sua velocidade, entre outros fatores.

A partir daí, os dados obtidos foram levados para tratamento, além de terem sido compilados num único programa, no qual puderam ser analisados em conjunto, para a identificação e caracterização de diferentes grupos de fraturas. Esse é um diferencial da pesquisa pois, segundo Aline, “as técnicas que foram utilizadas já existem mas elas possuem limitações e, muitas vezes, não são utilizadas e interpretadas em conjunto". O meio estudado é muito complexo e, por isso, “quando se utiliza apenas uma técnica de investigação, você limita muito o entendimento dos resultados.”

Melhorias para o abastecimento urbano

A pesquisadora constatou que a rocha analisada está localizada entre 30 e 40 metros de profundidade e possui duas zonas bastante diferentes. A primeira, na parte superior, é considerada uma rocha mais alterada. Vai de, aproximadamente, 30 a 65 metros de profundidade e apresenta a maior quantidade de fraturas e também maior fluxo de água. Já a segunda, a partir de mais ou menos 65 metros abaixo da superfície, tem características de uma rocha mais íntegra: possui menor número de fraturas e menor velocidade média do fluxo de água.

Com essas informações no programa, além dos dados a respeito das análises químicas da água e dos principais grupos de fraturas identificados (suas direções, mergulhos e atividade hidráulica), Aline pôde entender melhor sobre a dinâmica da água no aquífero e, consequentemente, quais os caminhos mais prováveis que são traçados pelos contaminantes. Com isso, pôde ser elaborado um modelo conceitual da área. Dessa maneira, a equipe de pesquisa escolheu um trecho, entre os que apresentavam maior índice de contaminação e maiores velocidades de fluxo medidas, para a instalação de um poço. Através dele será possível realizar um monitoramento da região a longo prazo.

Segundo a pesquisadora, a contaminação no local de estudo é representada, principalmente, pela utilização inadequada de produtos por indústrias no passado. Estes organoclorados atingiram primeiro o aquífero poroso, na parte superior, para depois passarem ao aquífero cristalino. Os processos necessários para remediação da água em cada um desses sistemas podem ser completamente diferentes. Há, por exemplo, métodos que podem ser realizados no próprio local, como um tratamento térmico ou a injeção de antioxidantes, e outros que são aplicados externamente, após o bombeamento e transporte da água para outro local.

Por isso, a partir do conhecimento de como se caracteriza o fluxo de água e o transporte dessas substâncias no aquífero fraturado, as empresas e organizações responsáveis pelo tratamento de água poderão identificar quais são as ações mais adequadas a serem tomadas na região, principalmente com relação às técnicas de remediação. Assim, esses aquíferos podem se tornar uma fonte ainda mais útil e vantajosa de água para o abastecimento urbano.

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