ISSN 2359-5191

01/08/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 94 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Pesquisa do Instituto Oceanográfico ajuda a estabelecer um panorama da região da Bacia de Campos
Estudo de micro-organismos que vivem no fundo do oceano fornece informações importantes para um melhor entendimento dessa região de exploração de petróleo
Foraminíferos bentônicos. / Imagens: P. N. Pearson e I. K. McMillan

O Projeto de Caracterização Ambiental da Bacia de Campos, idealizado pela Petrobras em pareceria com diversas instituições brasileiras, começou a se desenvolver em 2007 com o objetivo de gerar e promover conhecimento sobre a região. Uma das vertentes é o Projeto Habitats – Heterogeneidade Ambiental da Bacia de Campos, que visava compreender as questões ambientais da área. Inserida no projeto, a pesquisadora do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, Cintia Yamashita, dedicou-se a estudar, sob orientação da professora Silvia Helena de Mello e Sousa, os foraminíferos bentônicos da Bacia de Campos.

Foraminíferos bentônicos são micro-organismos que vivem no fundo do oceano sobre o sedimento ou dentro dele. Possuem conchas que frequentemente são calcárias. Juntamente às bactérias, são os primeiros a responder de alguma forma quando há alterações no fluxo de matéria orgânica na região onde vivem e compõem grande parte da biomassa dos oceanos. O estudo dos foraminíferos vivos ou dos fósseis de suas conchas pode ser muito importante por oferecer dados geológicos utilizados na exploração de petróleo, ou informações sobre a variação da qualidade da água na região, por exemplo.

A pesquisadora analisou a distribuição de foraminíferos bentônicos vivos na Bacia de Campos (entre 400 e 3000 metros de profundidade). Segundo ela, a região ainda era inexplorada no que se refere ao estudo desses micro-organismos vivos e ela se propôs a entender algumas questões. “Fiz o levantamento de quais foraminíferos existiam na região e tentei interpretar por quê eles estão lá, o que está influenciando o comportamento deles.” Na coleta do material, um barco ia até o local e soltava um equipamento que descia até o solo e coletava sedimentos que, posteriormente, eram analisados em laboratório.

“É um sistema em 3D, então tentei entender o que está acontecendo na superfície, embaixo, e ao lado”, ela explica. Cintia observou que algumas correntes, como a Corrente do Brasil, bem como o fluxo de matéria orgânica que vem da superfície, produzida pelos organismos da coluna d’água, têm papel essencial na variação da quantidade dos foraminíferos bentônicos da região.

Além disso, ela observou a presença de mais de 600 espécies que não se sabia que existiam na Bacia de Campos. E percebeu, também, que a região ainda não possui sinais significativos de poluição. “Pelas deformações na carapaça, você pode inferir algumas coisas. A região está poluída? Existe algum bioindicador de poluição por metais? Achei poucas deformações, e cheguei à conclusão de que, em 2009, a região ainda não tinha poluição provocada pelo ser humano.”

Estudos como esse são importantes por fornecerem um panorama ambiental da região antes que ela passe por muitas alterações devido à ação do ser humano, o que permite a exploração de petróleo, por exemplo, de forma mais responsável. “As pesquisas nessas regiões profundas saem muito caras, por isso não tem muitos estudos, o pessoal estuda mais perto da costa, onde tem mais alterações pelo ser humano. Mas na Bacia de Campos tem exploração de petróleo, então é importante estudá-la”, Cintia explica. “Nós temos uma situação antes, e se houver acontecimentos naturais ou não naturais, como derramamento de petróleo, dá para fazer outra coleta e comparar o antes e o depois, e o que foi alterado na região”. O estudo de Cintia serve de base para mais pesquisas nesse ambiente.

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