Estudo do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da USP (Ludens) aponta que os clubes de futebol e a urbanização caminharam lado a lado no começo do século passado. Pesquisa destaca a importância do Tietê na formação e industrialização do estado de São Paulo e o consequente crescimento de importantes agremiações esportivas como Corinthians, Palmeiras, São Paulo, São Bento e Sírio.

O levantamento de edições antigas dos jornais Folha de São Paulo e Estadão foi o ponto de partida para a investigação feita por Renata Ferreira, pesquisadora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH). Motivada por uma necessidade de apresentar uma abordagem positiva sobre o Tietê, a pesquisadora lançou mão de uma consulta profunda na bibliografia que versa sobre o rio para tentar entender seus aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais.

“Por meio dos muitos portos fluviais, o rio Tietê foi extremamente importante para a formação metropolitana de São Paulo”, afirma Renata. Até a década de 1950, segundo ela, o conjunto de hidrovias, eclusas, canais artificiais e o próprio sistema viário favoreceram a urbanização da várzea (porção de terra próxima ao rio), o crescimento econômico e, assim, o desenvolvimento dos clubes.

Renata elenca o governo Vargas como grande motivador da regulamentação portuária e do uso do futebol como elemento de propaganda nacionalista. “O início do Estado Novo foi um período crucial para o desenvolvimento do rio Tietê e de clubes importantes como o São Paulo e o Corinthians”. Além dos clubes próximos ao rio, também foram incluídos outros espalhados pelo interior paulista na pesquisa e apresentaram resultados semelhantes clubes como o Guarani e a Ponte Preta de Campinas, o Botafogo de Ribeirão Preto, a Ferroviária de Araraquara e o Paulista de Jundiaí.

A prosperidade econômica da região fez com que pessoas influentes ligadas aos clubes de futebol pudessem contribuir diretamente para seu fortalecimento. Essa relação pode ser constatada através da presença de fortes figuras da sociedade na cúpula desses times. Entre elas podemos elencar Edgar Egydio de Souza Aranha (presidente do São Paulo), além de Alfredo Schurig e Alfredo Inácio Trindade (presidentes do Corinthians).

“As ações sociais dos presidentes foram imprescindíveis para o desenvolvimento desses clubes nesse período”, diz. Para Renata, alguns outros como São Bento e Sírio podem não ter prosperado tanto justamente por não terem dirigentes que desempenhassem papéis tão importantes na sociedade. “As influências e associações políticas se fizeram determinantes na história do crescimento destas entidades”.

Esse resgate histórico pode ajudar a construir uma nova imagem sobre o rio, hoje visto apenas como uma área poluída. Na visão da pesquisadora, a região do rio Tietê é um local de grande representatividade histórica que abrigou clubes que são cruciais no cenário esportivo e foi extremamente importante para o início da urbanização. “O Tietê comporta várias histórias e foi fundamental para que a cidade de São Paulo e os clubes de futebol se desenvolvessem e se tornassem as potências que são atualmente”.