A sustentabilidade é um tema recorrente nos dias de hoje, mas será que ele de fato é efetivo para transformar o modo de vida das pessoas? Em seu doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA), a pesquisadora Iara Moya avalia de modo crítico o discurso global da sustentabilidade e como ele se dá na esfera local.
O trabalho, orientado pela professora Margarida Kunsch, considera a comunicação como uma estratégia para uma real mudança do modo de viver sustentável. Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora baseou-se no geógrafo Milton Santos, por considerar que a sustentabilidade é resultado da globalização.
De acordo com Iara, a sustentabilidade, assim como a globalização, reúne três discursos em apenas um. “O autor considera a existência de três mundos em um só: a globalização como fábula, como perversidade e a possibilidade de uma outra globalização”, explica. “A sustentabilidade é apresentada como solução, salvação do mundo, mas ela encobre o que é o grande problema da atualidade, a ‘danação’ do mundo”.
Iara expõe que a questão da sustentabilidade é baseada em um modelo econômico perverso, gerador da insustentabilidade global atual. “Esse discurso, na verdade, encobre o problema, a ‘danação’ do mundo, que é a efetiva insustentabilidade do sistema, a saber, de um lado, o aquecimento global e as mudanças climáticas, e, de outro, a sobre-exploração e a deterioração dos serviços ecossistêmicos”, afirma.
A pesquisadora chegou a três resultados principais. A sustentabilidade global, que é apresentada como uma solução, expõe aspectos como a responsabilização dos pobres pela condição do mundo, proposição da harmonia dos pilares econômico, ambiental e social e a perspectiva da garantia intergeracional.
Além disso, as empresas locais adotam o discurso da sustentabilidade global sem reconhecer sua real responsabilidade no impacto sobre o planeta e consideram o tema apenas como um bom negócio. “No local, o discurso da sustentabilidade é pura reprodução do discurso global e pouco acrescenta na busca de melhoria do mundo”, aponta a pesquisadora.
O terceiro ponto de sua conclusão diz que é viável pensar em novas formas de preservação do meio ambiente. “Uma outra sustentabilidade é possível, um discurso da sustentabilidade global que é capaz de ser agente de mudança, capaz de mobilizar para novas maneiras de viver”, conta a pesquisadora.
Além de haver alternativas para um modo de viver sustentável, a comunicação pode ser entendida como uma alavanca de mudança na sustentabilidade. “A adoção da comunicação como estratégia possível de sustentabilidade é o que nos leva do discurso da sustentabilidade global ao exercício da sustentabilidade enquanto cidadania local”, conclui Iara.
Processo de pesquisa
Ao entrar no doutorado, em 2012, Iara passou a fazer parte do Centro de Estudos de Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Cecorp), do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA. Nele, a pesquisadora elabora pesquisas acadêmicas e artigos sobre comunicação e sustentabilidade.
A pesquisa bibliográfica concentrou-se nos temas da comunicação organizacional, do discurso e da sustentabilidade, além de obras de Milton Santos. Já a parte documental considera os documentos produzidos em conferências da ONU (Organização das Nações Unidas) e os relatórios de suas agências e grupos de trabalho.
A parte empírica baseou-se em uma pesquisa do Cecorp para o projeto “Políticas e estratégias de comunicação na gestão da sustentabilidade nas organizações públicas e privadas”. Por fim, foram analisados dados secundários em pesquisas não-acadêmicas sobre sustentabilidade e mudanças climáticas realizadas em parceria com grandes empresas do Brasil.