É comum associar o sucesso de um atleta esportivo reconhecido à genética da sua família em casos nos quais ele tem parentesco com outros célebres esportistas. Thiago e Rafinha, jogadores de futebol do Barcelona, por exemplo, tiveram a sorte de serem filhos de Mazinho, futebolista tetracampeão mundial com a seleção brasileira em 1994. O mesmo se aplica ao pai, Bernardinho, e ao filho, Bruno, na seleção de vôlei. No entanto, até onde a genética influencia no desempenho do atleta? O professor da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE/USP), Guilherme Giannini Artioli, busca essa resposta tendo como linha de pesquisa a relevância de variantes genéticas na saúde e no desempenho esportivo.
Está comprovado cientificamente que existem mutações, conhecidas como polimorfismos, nos códigos genéticos humanos que exercem influência no desempenho esportivo de um atleta de alto rendimento. Normalmente, lembra o professor, essas mutações são associadas a doenças graves, mas elas também podem ser responsáveis pelo sucesso de um esportista. “Diria que, com um bom grau de certeza, pelo menos uns 15 polimorfismos já foram consistentemente associados com o desempenho esportivo”, afirma Guilherme.
Porém, é importante frisar que a herança genética tem relação apenas com atributos físicos que o atleta possua e que possam ajudá-lo a ter um sucesso em determinado esporte. Por isso, este tipo de herança exerce uma maior influência em esportistas que dependam mais de sua capacidade física do que sua capacidade técnica ou habilidade motora. Um maratonista, por exemplo, pode ser privilegiado dentro do seu esporte caso tenha um polimorfismo que o ajude a gastar menos energia do que o normal. O mesmo acontece com um ginasta que, graças à sua genética, tem uma altura abaixo da comum.
O sucesso no esporte de alto rendimento, no entanto, depende de muito mais do que isso. “Pensando em uma ‘fórmula’ para um atleta de sucesso, você vai encontrar desde a família dele, seus ídolos de infância e as oportunidades que ele teve para se desenvolver, entre outros. São vários fatores, e a genética é apenas um deles”, relembra o professor. “Não adianta ter um Messi na Islândia ou um ginasta habilidoso que seja alto”, ou seja, o contexto em que o atleta se desenvolve é tão importante quanto seus atributos físicos. Em esportes onde a técnica costuma prevalecer, como o vôlei e o futebol, citados anteriormente, o treinamento e o desenvolvimento do esportista se tornam mais importantes do que sua herança genética.
Ao focar na influência dos genes na saúde de uma pessoa comum, Guilherme cita uma pesquisa feita com gêmeos que foram submetidos a dietas alimentares iguais. Segundo os resultados, as respostas às dietas entre os gêmeos foram muito semelhantes. “Temos, a partir disto, como bem estabelecido que a capacidade de responder a um estímulo de emagrecimento, por exemplo, tem um forte componente genético.” O estudo traz que o coeficiente de herdabilidade, em outras palavras, a porcentagem que mede a influência da genética nesses casos- variaria de 60% a 80%.
Dessa forma, genes que atribuem ao indivíduo uma propensão à obesidade interferem bastante nas suas condições físicas. Segundo Guilherme, alguém que não possui polimorfismos de predisposição ao ganho de massa corporal e se alimenta de frituras quatro vezes por semana acumula menos IMC (Índice de Massa Corporal) do que uma pessoa que tenha os genes e se alimenta de frituras menos de uma vez a cada sete dias. Ele ainda brinca: “Podemos afirmar sim que a expressão ‘magro de ruim’ é verídica!”
O professor conclui, entretanto, que apenas a genética não explica a obesidade. “Um gene de propensão à obesidade não é determinista. Talvez a pessoa tenha que seguir um plano [de dieta] mais regrado, mas a predisposição genética não significa que ela vá ser obesa.”