Um dos primeiros alunos do curso é o pesquisador Maurício da Silva, que depois de graduado, em sua dissertação de mestrado, analisou a questão do desenvolvimento da epistemologia (do grego, estudo do conhecimento) da educomunicação a partir da contribuição da abordagem da relação entre o ensino das artes e culturas visuais.
Ele explica que a abordagem triangular do ensino das artes e culturas visuais é uma proposta sistematizada pela professora da ECA Ana Mae Barbosa e que tem como princípio o desenvolvimento atividades a partir de três ações básicas - o ler, o fazer e o contextualizar.
Dentro de um programa de ensino de artes a proposta é que exista uma interação entre essas três ações, com uma interação mútua e sem momentos em que alguma das partes fique isolada.
"O diferencial da Abordagem Triangular é que torna o ensino da Arte uma atividade integrada, condizente com os processos pessoais e grupais de aprendizado e pesquisa", afirma Silva.
Isso vem somar a outras propostas de arte que já existem, como as que destacam as competências técnicas do aluno/artista, permitem uma expressão livre, ensinam a teoria ou abordam seu contexto histórico.
O pesquisador relembra que as artes são formas de conhecer, experienciar, descrever e interferir no mundo, da mesma forma que a ciência ou a filosofia.
Atualmente, artes é disciplina obrigatória na educação básica, contudo a proposta de reforma do ensino médio propõe a retirada dessa obrigatoriedade do currículo.
Além disso, é muito comum as escolas contratarem um professor de linguagem para atuar como polivalente, ou seja, atuando nas aulas de pintura, desenho, teatro, música, deixando de lado as especificidades de cada área. Além das dificuldades de reconhecimento pleno, há também discussões a respeito da Base Nacional Comum Curricular, em que na primeira versão consideravam as artes como sub-componentes. Isso significa que seu conteúdo poderia entrar dentro de outra disciplina, como Língua Portuguesa, sem existir formalmente no currículo.
Em paralelo a essas mudanças, algumas escolas já têm oferecido projetos ou disciplinas de Educomunicação, assim como organizações da Sociedade Civil, dada a contribuição de pesquisas e estudos de peso, atuais e investigativos nesse campo.
Já não é novidade que cada vez mais comunicação e educação estejam inter-ligadas, e cada vez mais trabalhadas em diferentes níveis educacionais, formais ou informais. Mesmo sem a nomenclatura "educomunicação", diversas instituições de Ensino Superior oferecem cursos de formação para profissionais e professores também.
Mauricio Silva também esteve no Congresso da Intercom 2016, sediado este ano na Escola de Comunicações e Artes, que teve como principal tema a reflexão “Caminhos integrados para um mundo em transformação”, abordando diretamente educação e comunicação. A ECA ainda recebeu o Global MIL Week, evento entre a USP e a UNESCO com foco em discussões diversas nos campos de política públicas, papel das universidades, estudos nas mais diversas áreas do conhecimento e, sobretudo, a participação dos jovens nesse processo. O tema foi Alfabetização Midiática e Informacional, mostrando a relevância e atualidade dessa discussão.
Assim, a educomunicação está posta, existente e em atividade e, de acordo com Silva, pensar sua epistemologia é mostrar qual é o seu núcleo. "As dificuldades passam pela necessidade de reflexão teórica aprofundada, principalmente ao que se relaciona à Filosofia da Ciência, como também o entendimento sobre áreas de conhecimento. Isso porque há pesquisadores que não consideram a Comunicação como área do conhecimento, por exemplo. É importante o cuidado para que a trabalho seja coerente com as pesquisas que foram realizadas anteriormente até aqui."