São Paulo (AUN - USP) - Minimizar os custos do tratamento, diminuir a dor dos procedimentos e preservar ao máximo os tecidos dentários e bucais. Estes são as principais vantagens da filosofia de Mínima Intervenção (MI) Odontológica, que foi o tema de um simpósio realizado na Faculdade de Odontologia (FO) da USP.
O encontro foi coordenado pelo professor da disciplina de Odontopediatria da FO, Marcelo Bönecker, que, juntamente com os palestrantes Veersamy Yengopal e Steffen Mickenaustch, professores da Universidade de Joanesburgo, e Soraya Leal e Ana Cristina Bezerra, docentes, respectivamente, da UnB e da UCB, de Brasília, organizaram um compêndio que une a abordagem minimamente invasiva à Odontologia Baseada em Evidência. O livro pode ser acessado pelo site www.midentistry.com. “Neste compêndio, associamos as técnicas de mínima intervenção e procuramos investigar quais delas apresentavam evidência científica. Para isso, fizemos revisões sistemáticas de cada um dos assuntos”, explica Bönecker.
A filosofia de Mínima Intervenção é um conceito relativamente novo, que vem ganhando reconhecimento internacional. No Brasil, o simpósio realizado na FO-USP foi o primeiro na área. Tal abordagem consiste em cinco elementos básicos no manejo da cárie: identificação dos fatores de risco em nível individual, implementação de estratégicas preventivas, remineralização de lesões cariosas iniciais, intervenção cirúrgica mínima nas cáries mais extensas e reparo de restaurações defeituosas.
Os fatores de risco de cada paciente são avaliados a partir de sua quantidade de saliva, da exposição a carboidratos e ácidos, do acúmulo de placa, do acesso ao flúor, bem como através de seu histórico dental e médico, seu comprometimento com as recomendações do dentista e seu estilo de vida. As estratégias de prevenção são o passo seguinte: o odontologista recomenda ao paciente que mude os hábitos que podem originar as lesões, além sugerir o uso de produtos que possam prevenir seu aparecimento.
De uma forma geral, as cáries são causadas pelo acúmulo de bactérias, que se alimentam de restos de comida que ficam dissolvidos na boca. O produto do metabolismo destas bactérias são os ácidos, que, ao entrarem em contato com o dente, causam sua desmineralização. Quando ainda está em fase inicial, a cárie se apresenta apenas como uma mancha branca e opaca no dente, sem a formação de “buracos” do tecido dentário. Neste estágio, a lesão é chamada de não-cavitada e pode ser revertida através da escovação e da aplicação de flúor, que é o que recomenda a filosofia de MI.
Já para as lesões cavitadas, aquelas em que já há um “buraco” no dente, a MI preconiza uma intervenção cirúrgica o menos invasiva possível. Nesse sentido, há diversas técnicas, dentre as quais se destaca o Tratamento Restaurador Atraumático (ART), que não faz uso da temida broca no tratamento da lesão cariosa. Em vez disso, utiliza-se instrumentos manuais não-elétricos para a remoção do tecido cariado e a restauração é feita com ionômero de vidro, produto que, além de constituir uma reparação definitiva – ao contrário dos materiais convencionais, que tem de ser substituídos com o passar do tempo –, ainda proporciona a remineralização dos tecidos que foram afetados, mas ainda não infectados pela cárie.
A abordagem minimamente invasiva vem se mostrando muito mais barata do que os outros métodos empregados pelos odontologistas. “A quantidade de material utilizada para as restaurações é muito menor, o que diminui o custo do procedimento. Além disso, para as comunidades, há uma relação custo-benefício muito mais vantajosa quando se trabalha com estratégias preventivas”, afirma Bönecker.
A diminuição da dor nos procedimentos é outra vantagem dessa filosofia. Podemos dar adeus à broca e à anestesia, instrumentos tão temidos no consultório do dentista. “Na clínica, fazemos uso de técnicas que causam pouco ou nenhum desconforto para o paciente, e, portanto, crianças e adultos passam a colaborar muito mais para o tratamento necessário”.