São Paulo (AUN - USP) - “Só acredito que chegaremos à democracia quando a TV Globo colocar em seus anúncios que é uma concessão estatal”. Assim Laurindo Leal Filho, jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA), terminou sua fala em palestra que ocorreu recentemente na Faculdade de Economia e Administração e Contabilidade da USP (FEA). O evento fez parte da V Semana de Relações Internacionais da universidade, e contou com o também professor de Jornalismo da ECA Bernardo Kucinski.
O debate, cujo tema era “Impactos sociológicos do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa”, foi repleto de críticas à mídia brasileira. Para Bernardo Kucinski, o poder da televisão na história do Brasil é assustador. “A Globo, várias vezes, com a força que tem, usurpou nossa sociedade tentando ditar os rumos da política”. “Assim como a Inglaterra foi unificada pelas estradas de ferro, o Brasil foi pela TV”, acrescenta o professor.
Para Laurindo Filho, é imprescindível debater a renovação das concessões das emissoras de rádio e televisão no Brasil. “Isso sempre foi escondido da população, nunca antes discutimos essa questão e devemos fazê-lo, pois os meios são bens de toda a sociedade”. O jornalista acrescenta ainda que o Ministério das Comunicações deve “parar de esconder do povo” os dados dos processos de concessões públicas, muitos dos quais, para ele, são ilegais.
Ambos os palestrantes acharam legítima não renovação da RCTV na Venezuela pelo governo de Hugo Chávez. Para eles, um governo pode não aceitar renovar uma concessão que é, de certa forma, um bem de toda a sociedade. Bernardo Kucinscki diz, porém, que o processo feito por Chávez deveria ter sido mais claro e não ter parecido ser autoritário, mas afirma que não deixou de ser legal.
A poder da televisão em moldar os hábitos da sociedade e ditar as decisões políticas está em declínio para Kucinski, mas ainda é nítido. “Os políticos sabem que sem ela não é possível governar, eles temem a TV”, diz o professor. Laurindo Filho dá o exemplo de Rosana Sarney e Ciro Gomes, que tiveram suas candidaturas presidenciais “acabadas pela Rede Globo”.
Para Laurindo Filho, a “população tem dificuldade de exigir um outro modelo de TV porque não tem muito contato com modelos diferentes, como o das TVs públicas européias”. Ele acredita que deve haver a regulação do conteúdo das emissoras por órgãos do governo, sem os quais o “atual quadro negativo tende a perpetuar-se”.
Bernardo Kucinski discorda do “diagnóstico apocalíptico” dessa perpetuação. Para ele, a internet e as novas tecnologias desfarão o domínio da TV. “Uma revista que vende hoje apenas 20 mil exemplares se paga”, e vemos a “proliferação das que têm cunhos alternativos”.
Ele acredita que a internet tem um papel fundamental na comunicação de massa contemporânea, e que é uma grande esperança para o nosso sistema informativo dominado pela TV. “O desenvolvimento da computação se deu em sentido contrário ao da Revolução Industrial inglesa, pois descentraliza a produção e devolve ao produtor a autonomia da profissão. O usuário, novo produtor de conteúdo, se desvencilha da máquina. A essência dessa tecnologia é libertária”, finaliza o professor.
Por outro lado, Laurindo Leal Filho não acredita que a internet transferirá totalmente o eixo da informação de um centro monopolizador, a TV, para um meio difuso e democrático. Para o palestrante, é uma mídia muito recente e ainda sem muitas pesquisas e estudos que provam algo definitivo.
Ambos os palestrantes concordaram com a não renovação da RCTV na Venezuela pelo governo de Hugo Chaves. Para eles, é legítimo que um governo não aceite renovar uma concessão que é, de certa forma, de toda a sociedade. Bernardo Kucinscki diz que o processo feito por Chavez deveria ter sido mais claro e não ter parecido ser autoritário, mas afirma que não deixou de ser legal.