ISSN 2359-5191

20/06/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 12 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Treinamento competitivo tradicional pode ser aplicado ao portador de limitações físicas na natação

São Paulo (AUN - USP) - O esporte para-olímpico brasileiro obteve grande destaque no último ano, em Sydney. Na Escola de Educação Física e Esporte da USP, no mesmo ano, foi concluído um estudo que promete lançar luz num campo ainda incipiente em pesquisa e aplicação prática de conhecimentos: o esporte para portadores de limitação física. A iniciativa foi da Diretora Técnica do Clube dos Paraplégicos e professora mestra pela EEFE Elizabeth de Matos, que estudou por 6 anos as particularidades no treinamento da natação para atletas portadores desse tipo de limitações e deficiências.

Terapeuta ocupacional, Elizabeth atua, desde 1980, na natação para esse público específica. Ela dá aulas da modalidade para pessoas com problemas de coluna e treina atletas para competição. Efeitos do treinamento de natação para portadores de limitação física foi a pesquisa por ela desenvolvida com 12 desses atletas, através de treinos regulares no Centro Olímpico do Ibirapuera e nas piscinas da USP. Os objetivos do trabalho expressam-se nas indagações sobre dois pontos-chave: se o treinamento tradicional para atletas poderia ser aplicado também para portadores de alguma limitação ou deficiência e se são possíveis, com isso, melhores desempenhos esportivos desses praticantes. Para ambas as questões, a resposta foi afirmativa.

“É forte a idéia de que a natação para deficientes é apenas terapêutica. Minha intenção foi desmistificar que eles não pudessem fazer treinamento competitivo e verificar se a prática do treino convencional pode trazer benefícios para as atividades gerais do portador”, esclarece Elizabeth. A pesquisadora centrou-se em itens básicos de avaliação e treinamento esportivo, como freqüência, intensidade e duração do estímulo físico. Uma das conclusões a que chegou foi a de que o portador de alguma limitação física necessita de um período maior de descanso nos intervalos tanto entre treinos quanto de recomposição corporal dentro de um mesmo treino. “É preciso respeitar os períodos de recuperação sugeridos em cada estímulo”, afirma ela, sublinhando a necessidade de que o trabalho com cada atleta seja individualizado, pois só dessa forma se pode avaliar o modo como o atleta responde aos estímulos e, por conseguinte, o grau de eficiência do treinamento.

A professora já colheu resultados positivos ao longo de sua atividade com atletas, ajudando, inclusive, um nadador que participou da Olimpíada de Seul, em 1988. Fábio Ricci foi um vitorioso que se destacou natação após sofrer acidente que o deixou paraplégico. Passou, então, a seguir treinamento orientado por Elizabeth. Elemento importante do processo de melhoria no desempenho de seus atletas, a treinadora ressalta a importância da chamada fase de “polimento” no aprimoramento da parte mecânica do nado e no ganho de agilidade. Trata-se de uma etapa mais longa, em que se põe em prática um roteiro específico de aperfeiçoamento e ganho de velocidade: mantém-se, por exemplo, a distância percorrida e a duração de um treinamento, e centra-se na intensidade do treino, para aumento de agilidade e rapidez. Um passo importante e mesmo crucial no processo de evolução no desempenho esportivo de qualquer atleta, seja ele portador de limitações ou não.

Nas atividades desenvolvidas em treino, as pesquisadora não verificou a presença do chamado “overtraining”, ou seja, um esforço físico acima do máximo que o atleta pode realizar sem maiores riscos. A ausência dessa esforço acima da capacidade máxima do praticante com limitações físicas é um indício de que ele tem condições de realizar o programa de treinamento convencional que lhe foi proposto, desde que acompanhado e orientado em suas individualidades. Elizabeth confirma que o programa desenvolvido alcançou seus objetivos: melhorar o desempenho dos atletas e conseguir índices suficientes para classificações em campeonatos.

O percurso para concluir o estudo, quanto à base teórica, não foi fácil: faltam apoio bibliográfico e fontes substanciais de pesquisa. “Em pesquisas acadêmicas, geralmente se usa uma revisão de literatura de no máximo dez anos anteriores ao ano do estudo. Mas, no meu caso, com a escassez de fontes, utilizei todo o material que encontrei disponível, desde a década de 70”, comenta a pesquisadora. Críticas foram recebidas por essa utilização de dados antigos. Da mesma forma, houve pesquisadores que invalidaram os efeitos da pesquisa por esta não contar com um grupo de controle – um grupo paralelo que serve como eixo comparativo para a pesquisa central. A pesquisadora rebate as críticas, pois sabe que, no terreno em que está pisando, a terra ainda é pouco adubada, pois não há grande quantidade de estudo para apoio. Todo esforço para acrescentar dados, portanto, é especialmente significativo, assegura ela. “Esse estudo certamente traz subsídios para novos trabalhos, pois ajuda a descrever o que se pode ou não fazer no treino para portadores de limitações físicas”.

Com as respostas e os efeitos positivos no desempenho dos atletas, a viabilidade do processo convencional de treinamento também para os portadores de limitação física fica, portanto, confirmada – contemplando-se, claro, o acompanhamento técnico recomendado a qualquer treinamento bem fundamentado. As conclusões da pesquisa ajudam a descreditar o pensamento reducionista de que a natação para esses praticantes é atividade meramente recreativa ou terapêutica. Além do mais, reforçam a idéia que Elizabeth enuncia como eixo de seus esforços: “O importante é como enxergar que o portador de deficiência física pode ser também um atleta vitorioso”.

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