São Paulo (AUN - USP) - O etanol não ameaça a floresta Amazônica nem a produção de alimentos. Essa é a conclusão do estudo feito pela ONG WWF. De acordo com Luís Fernando Laranjeira, coordenador responsável pelo projeto, a análise é ponto inicial para futuras pesquisas mais aprofundadas sobre o tema. O relatório foi lançado no final do mês de maio, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP).
Os dados apontam que a dinâmica de expansão da cana-de-açúcar tem ocorrido, em grande parte, sob áreas de pasto concentradas, principalmente, na região sudeste do país. A previsão da expansão da cana é feita a partir do mapa das usinas de etanol – já existentes ou em construção –, pois a matéria-prima deve estar num raio de, no máximo, 50 quilômetros do local. O histórico brasileiro de produção de açúcar, que vem desde o período colonial, colaborou para tornar o país competitivo no campo do etanol atualmente. Segundo Laranjeira, “[o Brasil] mirava no açúcar e acertou no etanol”. Essa posição reitera os benefícios desse biocombustível apontados pelo governo brasileiro e tão debatidos em âmbito mundial.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), John Wilkinson, o relatório do WWF mostra que “[o modelo] é bom para o Brasil, mas isso não significa necessariamente que seja um modelo global”. Ou seja, apesar de todas as vantagens do etanol apontadas pelo governo brasileiro, a produção desse biocombustível não é benéfica em outros lugares do mundo como, por exemplo, nos Estados Unidos – onde há competitividade com os alimentos. Os dados mostram que enquanto o custo da produção de etanol no Brasil é X, nos Estados Unidos o custo é duas vezes maior e na Europa é quatro. Segundo o professor, “ninguém vai querer uma commoditie global, como a cana/o etanol, que apenas se aplique em países excepcionais”.
No caso específico do Brasil, o relatório da WWF demonstra que não existe competitividade da produção de cana-de-açúcar com os alimentos. Dos atuais sete milhões de hectares de cana no país, metade é destinada à produção de etanol enquanto a outra é destinada à produção de açúcar (alimentos). No entanto, o próprio representante da WWF, chama atenção para a necessidade de análise dos impactos sócio-ambientais em âmbito regional como, por exemplo, São Paulo. Segundo Laranjeira, em escala regional nota-se que “[é] muita cana em uma área pequena” que pode afetar, principalmente, os mais diversos biomas.
Opiniões sobre o relatório
Após a apresentação do relatório da WWF os professores John Wilkinson e José Goldemberg deram um breve parecer e levantaram algumas questões a respeito do tema. Para Wilkinson, além das opiniões citadas anteriormente, é essencial analisar os impactos indiretos do etanol como, por exemplo, aquele gerado a partir do remanejamento dos espaços de produção. Já o professor Goldemberg fez algumas considerações positivas a respeito das vantagens do etanol e levantou a questão sobre os indicadores ambientais que estão sendo rigorosamente impostos ao biocombustível. Segundo ele, os critérios de produção do etanol – como a questão da poluição ambiental, impacto sócio-econômico etc. – deveriam ser aplicados também a todas as outras fontes energéticas. O estudo compõe um conjunto de análises sobre o biocombustível feito por diversas instituições em torno do mundo e abre mais um espaço para o debate do tema.