ISSN 2359-5191

16/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 54 - Meio Ambiente - Museu de Zoologia
Sem áreas de conservação, peixes de água doce da Mata Atlântica podem desaparecer

São Paulo (AUN - USP) - A criação de parques nacionais é a única maneira de evitar o desaparecimento dos peixes da Mata Atlântica. Este foi o alerta dado pelo professor Naércio Aquino de Menezes recentemente no Museu de Zoologia da USP (MZUSP). Na palestra, o professor mostrou a diversidade de peixes de água doce encontrados nos 17 estados brasileiros pelos quais se extende a Mata Atlântica.

A criação de unidades de conservação e a ampliação e preservação das já existentes protegeria as cerca de 350 espécies que ainda restam no bioma, reduzido a cerca de 7% da formação original. Mas estas terras têm donos, nem sempre conscientes da necessidade de criação das áreas protegidas. “Um dos grandes problemas da conservação da Mata Atlântica é como compensar o proprietário e convencê-lo da importância de colaborar”, diz Menezes. Os proprietários geralmente optam por ocupar suas terras com atividades lucrativas, como os canaviais e as fazendas de camarões que destróem os mangues do Nordeste. “Quem é que pode contra o poder econômico?”, questiona o professor. E ele mesmo responde – ações de organizações como S.O.S. Mata Atlântica e Conservation International aos poucos conseguem dar passos importantes. Mas, é claro, a população precisa se conscientizar de que a destruição da natureza afeta a vida de todos.

Os rios da Mata Atlântica abrigam cinco grandes grupos de peixes, que povoam habitats diversos: riachos de pedra, lagoas, águas sombreadas (sob vasta vegetação), riachos com corredeiras, águas negras. Mais de 250 espécies são endêmicas, ou seja, só existem na região. O principal interesse comercial é o aquarismo. A coleta realizada pelos aquaristas causa impacto muito pequeno no meio ambiente, apesar de não haver controle quanto à exportação de peixes.

A situação é tão grave que os principais rios não têm mais peixes, a não ser nas cabeceiras. As exceções ficam por conta das regiões de Boracéia e do Alto Tietê – área protegida por causa dos manaciais responsáveis pelo abastecimento de água da região e de parte da cidade de São Paulo. Para o professor, a culpa “é das autoridades e do Ibama, que não tem condições de promover a defesa como deveria”. O professor diz que é incalculável a quantidade de espécies que foram extintas e sequer chegaram ao conhecimento do homem. Aí é que entra a importância do trabalho dos pesquisadores e das coleções dos museus, que permitem a divulgação da diversidade e promoção da preservação.

Os peixes da Mata Atlântica eram muito pouco conhecidos até o professor Menezes e sua equipe publicarem os resultados de suas pesquisas no livro Peixes de Água Doce da Mata Atlântica – Lista preliminar das espécies e comentários sobre a conservação dos peixes de água doce neotropicais. A obra, lançada pelo MZUSP em 2007, além de fazer um mapeamento das espécies, fornece dados sobre distribuição geográfica, consequências do desmatamento quanto à sobrevivência dos peixes, ameaça de extinção e sugestões de soluções para a preservação da Mata Atlântica.

A palestra fez parte do IV Ciclo de Palestras do MZUSP, que vai até o fim do mês, com entrada franca. A programação tem ainda dois encontros – sobre a importância dos cupins no ecossistema e sobre o trabalho de investigação científica do Museu Paulista (Museu do Ipiranga).

Serviço: IV Ciclo de Palestras
Museu de Zoologia
Av. Nazaré, 481 – Ipiranga
14/06 – E o cupim, serve a algum mistério? - Eliana Marques Cancello
28/06 – A pesquisa científica no Ipiranga- Carlos Roberto Ferreira Brandão
10h30 - entrada gratuita
(11) 6165-8140/8100 www..usp.br/mz

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