ISSN 2359-5191

16/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 54 - Saúde - Faculdade de Medicina
Banco do Cérebro busca novas soluções para doenças neurodegenerativas

São Paulo (AUN - USP) - Uma equipe multidisciplinar da USP começou a reunir uma variada amostra de cérebros, por volta de dois a três mil, ao todo, no chamado Banco do Cérebro. Através dessa coleta, pode ser extraído material para exames de DNA, anatomopatológicos e dados clínicos. Eles serão utilizados para encontrar marcadores genéticos das doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer. A grandeza da amostragem se deve ao fato de o grupo de pesquisas buscar marcadores étnicos para entender as diferentes estruturas genéticas da população. Assim, os pesquisadores podem ver se tais diferenças provocam ou não alterações anatomopatológicas. Essas informações prometem trazer diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados.

O médico-residente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), David Schlesinger, que é um dos pesquisadores do Banco do Cérebro, ressaltou que as pesquisas podem ajudar a entender como as doenças neurológicas agem em diferentes grupos. Ele lembrou também que estudos como esses são muito importantes num mundo em que as doenças degenerativas são cada vez mais comuns. O Alzheimer, por exemplo, tem um pico de incidência aos 85 anos de idade. Se antes ele era raro porque as pessoas morriam cedo, agora na idade em que ele aparece ainda há uma grande expectativa de vida. Entretanto, os diagnósticos ainda têm erro de 5 a 10%, devido à grande variedade de doenças e de fatores que as desencadeiam.

Schlesinger defendeu a separação de grupos por origem etnogeográfica. Embora o discurso politicamente correto seja forte, ele considera que há diferenças significativas nos genes entre pessoas de origens distintas. Os médicos perdem, então, muito tempo num exame generalizado. Dessa linha, os pesquisadores fizeram a opção pelos chamados “admixture studies” – estudos que separam as pessoas por grupo de forma a otimizar os resultados – em lugar do “genome wide association study”, que serve muito bem a populações mais homogêneas, como não ocorre no Brasil. O médico relatou que as pesquisas do professor da UFMG, Sérgio Penna, apontam que a etnia não importa tanto. Ele acha, no entanto, que com os avanços tecnológicos, pode-se encontrar como os marcadores étnicos atuam de diferentes maneiras no organismo e, em especial, nas doenças.

O médico aponta ainda que ao conhecer as doenças neurodegenerativas, várias terapias antigas poderão ser usadas no seu tratamento. A liberação de estudos de terapias como as de células-tronco embrionárias é um avanço “em prol do estado laico, em prol da livre pesquisa dentro de parâmetros éticos”. No entanto, é ainda uma aposta. Ele crê que haja resultados concretos nessas pesquisas num futuro distante, em 50 a 100 anos. No momento, o foco do Banco do Cérebro é o entendimento mais completo possível das doenças, em vez de apostar em novas terapias. Tamanho conhecimento pode tomar proporções perigosas. “A gente não tem leis para proteger as pessoas de discriminação genética; a gente tem que ter essas leis. Mas a gente não pode passar para o outro extremo”, afirma o médico. Se podem salvar vidas, as pesquisas são positivas. “O que é tratável a gente quer saber”, arremata.

Os primeiros resultados brutos devem sair em seis meses, feitos em 500 amostras de cérebros. O grupo de pesquisadores é coordenado pela médica patologista Lea Tenenholz Grinberg, e pelos professores Mayana Zatz, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Ricardo Nitrini, do departamento de Neurologia da FMUSP, Paulo Hilário Nascimento Saldiva e Wilson Jacob Filho, do departamento de Patologia da FMUSP, o último especializado em geriatria.

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