ISSN 2359-5191

19/09/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 88 - Saúde - Centro de Práticas Esportivas
Ritual de acasalamento de zebras inspira passos de capoeira

São Paulo (AUN - USP) - Uma versão para o surgimento das danças dos capoeiristas diz que homens africanos se inspiraram ao observar o comportamento dos machos de zebra nas disputas por fêmeas em épocas de acasalamento e criaram a diversidade de movimentos típicos das rodas de capoeira. Esse foi um dos temas da tratados na palestra de abertura da 11ª edição da Clínica de Capoeira, realizada recentemente no Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP).

Com o tema “Visitando o Passado, Gingando o Presente e Construindo o Futuro”, o evento teve como objetivo promover o intercâmbio entre praticantes de capoeira de várias partes do mundo, contando com a presença de mestres e alunos de Estados como Paraná, Bahia, Goiás, além de integrantes de países como Argentina, Peru, Costa Rica e Cuba.

A palestra inicial, para apresentar o tema da Clínica, foi dada pelo professor Vinicius Heine. A intenção foi mostrar a história e as perspectivas do esporte. No início, foram passadas algumas noções de tempo, partindo de citações como a música “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso, filósofos como Sêneca e Platão, além da lembrança do mestre Tony Vargas, compositor da música “A Saudade”, cantada nas rodas de capoeira.

Dentro dessas noções, Vinícius mostrou a idéia da falta de tempo. A partir disso, discursou sobre o presente da capoeira, representado pela própria Clínica, que simboliza o momento de parar com a rotina para pensar e sentir a capoeira, além de traçar caminhos e definir ramos para sua prática.

A fim de proporcionar essa reflexão, a Clínica teve oficinas e mesas de debates sobre temas como “Capoeira e Políticas Públicas” e “Capoeira pelo Mundo”, além do lançamento do livro “Capoeira: um instrumento psicomotor para a cidadania”, do professor Vinícius em parceria com o mestre Gladson de Oliveira Silva, da Phorte Editora.

Para Vinícius, o passado do esporte deve ser glorificado através das músicas e da lembrança de grandes mestres, como o mestre Bimba, um dos maiores difusores do esporte no Brasil.

Ainda dentro do passado, Vinícius mostrou a representação do quadro “Jogar Capoeira” ou ‘Danse de la Guerre”, feito por Johann Moritz Rugendas em 1835. A figura mostra escravos em uma roda de capoeira. Segundo o professor, essa era uma prática comum nos raros momentos de folga dos trabalhadores, que aproveitavam a oportunidade para cultuar os deuses das religiões africanas.

Já para representar o futuro, Vinícius citou as crianças, que, segundo ele, “assumirão o papel central da capoeira”. O professor acredita que o esporte tem papel muito importante na formação e educação dos jovens, pois, com ela, aprende-se “valores, convivência e respeito às regras, o que é difícil se aprender na escola pela precariedade do sistema educacional”. Também foi ressaltada a necessidade do trabalho em equipe para o desenvolvimento e crescimento da prática.

Por fim, Vinícius citou Carlos Drummond de Andrade para simbolizar o futuro depois da Clínica: “Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente”.

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