São Paulo (AUN - USP) - Um projeto para uma política de prevenção à violência, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e com a colaboração do Centro de Estudos da Violência da USP (CEV) está sendo desenvolvido em Moçambique. A presença da OMS num projeto deste tipo ocorre porque, hoje em dia, a violência é considerada problema de saúde pública. Há até mesmo um setor dentro da organização que cuida disso, já que a violência causa doenças, incapacita, mata e é dispendiosa ao sistema de saúde por causa de tratamentos e reabilitações. O CEV atua neste projeto em duas linhas: capacitação e projetos de pesquisa.
Na área de capacitação será ministrado um curso de formação geral sobre violência com assuntos como o que é violência, tipos, fatores de risco, modelos de prevenção. Duas pesquisadoras, Maria Fernanda Peres Tourinho e Adriana Alves Loche, irão duas vezes ao ano para aquele país. Elas já estiveram lá em em abril e maio e deverão voltar em outubro. Neste ano o trabalho ocorre com técnicos federais do ministério de Saúde, Educação, Exterior, Juventude além de ONGs. No ano que vem, será a vez dos funcionários governamentais das províncias, o equivalente aos nossos estados. Assim, haverá a formação de uma equipe apta a trabalhar no sentido da política nacional e desenvolver planos de análise.
Mas estes planos só poderão ser pensados com base em dados concretos sobre a violência. Porque estes índices não foram levantados, é que foi implantada a outra linha do projeto, a da pesquisa. “A partir de um diagnóstico inicial é possível pensar em estratégias para prevenir situações de violência”, diz Maria Fernanda. Isto será feito por meio da obtenção de dados sobre os tipos de violência, sua distribuição, a quem mais atinge, para depois se pensar em estratégias para prevenção. O CEV entra apenas no apoio técnico: não fará a pesquisa mas dará suporte, sugerindo como pesquisar, diagnosticar, avaliar e discutir os dados.
O CEV foi chamado para este projeto porque pertence a um país cuja língua oficial é o português assim como Moçambique. Além disso, já havia trabalhado em parceria com a OMS em outros projetos, mas não desta forma. Segundo Adriana Alves Loche, também pesquisadora, este é o único projeto da OMS sobre prevenção da violência na África.
Embora o português seja a língua oficial, é falado apenas por uma minoria, pois existem vários dialetos tribais. Assim, há grandes diferenças culturais, entre eles e também em relação ao Brasil. “A violência surge dentro de um referencial cultural que é muito diferente do nosso e pode dificultar o nosso modo de compreensão além de gerar obstáculos para prevenção”, diz Maria Fernanda. Adriana confirma esta idéia, ao dizer que, muitas vezes, o que se considera violência é só uma maneira de se manifestar, faz parte do cotidiano. É uma prática incorporada, transmitida até inconscientemente. E é disto que decorre a necessidade de se explicar o que é violência e de sistematizá-la, como reafirma Adriana.