São Paulo (AUN - USP) - O Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) está procurando os efeitos sociais do sistema utilizado no Hospital da Clínicas (HC). O HC é um hospital universitário vinculado à FMUSP e juridicamente ligado á secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Logo, trata-se de uma instituição pública. Porém, dentro deste estabelecimento existe um sistema de atendimento aos serviços de saúde pública (Sistema Único de Saúde – SUS) e particular (convênios e seguros), no qual os pacientes de cada sistema se dividem em uma fila dupla.
Os pacientes entram pela mesma porta, porém, dentro do HC começa a haver separações de procedimentos administrativos, de local físico de espera, tipo de acomodações diferente. No entanto o processo técnico e a equipe de atendimento são os mesmos. O trabalho dos professores Paulo Elias e Amélia Cohn procura entender de onde vem esta separação e que ideário ela carrega, o quanto afeta na relação dos funcionários com os pacientes e verificar se isto resulta em inclusão ou exclusão sociais. O ideário é o da falta de recursos públicos para sustentar o Hospital, para suplantar esta falta de verbas são feitos acordos com estes sistemas particulares de saúde. O problema aqui é que se estabelecem dois tipos de pacientes dentro de um ambiente público. Para Paulo Elias, este tipo de diferenciação reproduz o sistema de exclusão social existente no país inteiro.
Enquanto a qualidade técnica do atendimento é a mesma para ambas categorias, o processo de trabalho é outro. Enquanto o usuário do sistema particular é recepcionado na própria sala de consulta, o paciente do SUS passa antes por um balcão de triagem que determinará a necessidade de uma consulta para este. Assim o paciente do sistema público tem a autonomia de decidir se prefere consultar um médico negada. Devido à organização fracionada do SUS os tempos de espera para marcação e realização de exames também são distintos. Enfim, o usuário do convênio é tratado dentro de um hospital público como um consumidor do mercado, e suas preferências têm que ser respeitadas uma vez que ele sempre pode acessar outro serviço concorrente.
Esta diferença entre categorias de pacientes acaba afetando diretamente o quadro dos funcionários, que trabalha em condições completamente diferentes. Enquanto os pacientes do SUS convivem em quartos de até quatro pessoas, os conveniados partilham seu espaço com no máximo duas pessoas. O único aspecto do atendimento que não parece ser afetado por todas estas distinções é o acesso aos equipamentos e tecnologia de tratamento.
Enquanto isso o próprio sistema público recria dentro do Hospital a exclusão social das ruas.