São Paulo (AUN - USP) - A ciência reconhece quatro sorotipos da dengue, dentre os quais, três são encontrados no Brasil. A professora Suani Tavares Rubim de Pinho, do Departamento de Física Estatística e Sistemas Complexos da Universidade Federal da Bahia (FESC/UFB), em seminário no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP), afirma que existe a expectativa da entrada do 4º sorotipo no país.
A ameaça se dá devido à presença do DEN-4 na Venezuela e na Colômbia, países que fazem fronteira com o norte do Brasil. A maior parte das infecções que ocorrem hoje no país são atribuídas ao DEN-3. A entrada de uma nova variação do vírus dificultaria o controle da doença, pois, segundo Suani, "a recuperação de uma infecção confere imunidade permanente apenas para o sorotipo homólogo". Como os brasileiros não entraram em contato com o DEN-4, ainda não adquiriram defesa contra ele, o que levaria a uma nova epidemia de dengue no país.
Suani afirma que não há como deter a entrada do vírus. A dengue é uma doença de transmissão indireta, cujo vetor é o mosquito Aedes aegypti. Fatores sazonais influem diretamente na proliferação do hospedeiro e, conseqüentemente, da doença. Umidade, temperatura e, principalmente, pluviosidade precisam ser ideais para o desenvolvimento das larvas. As epidemias ocorrem, em geral, no verão, quando as temperaturas são altas e as chuvas, freqüentes. Entretanto, as coordenadas de um país já não são garantia da ausência do mosquito, pois as mudanças climáticas globais favorecem a expansão da sua área de ocorrência. O norte da Argentina e partes mais elevadas do estado do Paraná são exemplos de regiões onde o vetor não deveria aparecer, mas encontrou situações climáticas ideais para o seu desenvolvimento, devido às alterações no clima.
Embora a propagação da doença pelo mundo seja uma realidade, ela ainda não ameaça os países do norte. "Países desenvolvidos têm investimento no controle de doenças que não são de países pobres", lamenta a professora, que diz ser necessária uma maior aplicação de capitais pelos países subdesenvolvidos no controle de doenças transmissíveis, como a dengue e a malária. No Brasil, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) têm uma linha de estudos que procura desenvolver uma vacina contra a dengue. Em agosto deste ano, foram identificados 11 peptídeos localizados na superfície do vírus da dengue que, por terem se mostrado capazes de desencadear a produção de anticorpos, teriam potencial para compor uma vacina contra a doença. A descoberta foi patenteada, mas ainda está em fase de testes.
Os resultados dos estudos do grupo da professora Suani indicam que o combate à dengue deve ser feito por meio da associação de duas medidas: devem-se eliminar criadouros e combater mosquitos adultos. Estatísticas revelaram que a aplicação do "fumacê" se mostrou mais eficiente do que as campanhas contra a formação de depósitos que possam acumular água da chuva. "Impedir o desenvolvimento de ovos deve ser uma política global e os adulticidas devem funcionar junto para controlar a proliferação do mosquito", afirma Suani. Os principais depósitos do Aedes aegypti são pneus, latas, vidros, garrafas, pratos de vasos, vasos de cemitério, caixas de água, tonéis, latões, cisternas, piscinas, tampinhas de garrafas, bebedouros de animais, entre outros recipientes que possam acumular água limpa e parada.