ISSN 2359-5191

15/06/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 35 - Saúde - Instituto Butantan
Butantan descobre molécula capaz de matar células de tumor

São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores do Laboratório de Biofísica e Bioquímica do Instituto Butantan descobriram uma molécula com propriedade antitumoral. Chamada Amblyomin, ela age sobre uma estrutura celular específica, responsável pela replicação. Por isso, a molécula é capaz de matar várias células tumorais. Os cientistas comprovaram o potencial da Amblyomin para a produção de medicamentos, uma vez que ela não causa a morte de células saudáveis.

O potencial citotóxico da Amblyomin vem sendo estudado, principalmente, com células de tumor de pâncreas, que não responde ao tratamento com quimioterapia, e de melanoma, que é bastante agressivo e muito distribuído na população. Um projeto mais recente pretende analisar a ação da molécula sobre o tumor renal, que também é difícil de ser tratado.

Os pesquisadores do Butantan trabalham com a Amblyomin há alguns anos. No início, era conhecido apenas o potencial anticoagulante da molécula, pois ela foi obtida recombinante a partir de glândulas salivares de carrapatos. Uma patente para sua capacidade antitumoral já foi depositada no Brasil e protegida em vários países, com colaboração da indústria farmacêutica e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

No último ano, foi estudado o mecanismo pelo qual a molécula mata apenas células de tumor. Os cientistas do Butantan contaram, para isso, com a colaboração de Eduardo Reis, do Instituto de Química (IQ) da USP. Segundo Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora do Laboratório de Biofísica e Bioquímica do Butantan e coordenadora da pesquisa, foi feita uma análise de genes (55.000 mapeados) de células tumorais tratadas com a Amblyomin.

Os objetivos da análise gênica eram tentar desvendar o mecanismo pelo qual a molécula leva à morte células tumorais e descobrir se há um alvo específico nesse processo. Os resultados mostraram alterações em genes comuns a células de tumores de pâncreas e de melanoma, após tratamento a Amblyomin. Com isso, os pesquisadores comprovaram que existe um mecanismo comum de morte para essas células.

De acordo com Ana Marisa, a maioria dos genes alterados tem relação com o ciclo de vida celular. Isso foi provado por meio de testes bioquímicos e fisiológicos em laboratório. Segundo a pesquisadora, notou-se uma alteração interessante em uma estrutura celular específica, chamada proteassoma, possivelmente o alvo da Amblyomin.

Essa estrutura é responsável por um mecanismo que permite a transcrição gênica e, consequentemente, a replicação celular. Os resultados serão publicados em breve e indicam que a Amblyomin impede a célula tumoral de se replicar. A molécula consegue, por isso, matar várias células tumorais. Além disso, é possível que a Amblyomin não leve à morte células saudáveis porque parece existir uma diferença na quantidade de proteassomas entre células tumorais e células normais. Tais descobertas provaram o potencial da molécula para a produção de medicamentos.

A próxima fase do projeto compreende a realização de testes pré-clínicos da Amblyomin. Entretanto, ainda não existe no Brasil infraestrutura suficiente para isso e nem para o desenvolvimento da molécula, até que se torne um medicamento. Segundo Ana Marisa, é necessário contar com uma forte participação da indústria farmacêutica, o que é dificultado pela legislação brasileira. A pesquisadora destaca que a Lei dá pouca autonomia a instituições como o Butantan, que é um órgão do Governo do Estado. Isso dificulta a realização de contratos com empresas privadas, sobretudo em casos de inovação radical (como é o caso da patente da Amblyomin).

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