São Paulo (AUN - USP) - A hipertensão arterial, quando não tratada, pode levar a infartos e derrames. Por essa razão, deve ser alvo de constante atenção médica. A crença, enraizada no senso comum, é contestada pelo médico sanitarista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Ricardo Rodrigues Teixeira. Segundo ele não existe nenhum estudo de grande porte que comprove, de fato, que programas para prevenir a hipertensão arterial diminuem risco de doenças cardiovasculares. Além disso, as pesquisas menores existentes não apontam uma correlação entre os dois fatores. Há, contudo, a idéia de que pressão alta seja uma doença. O professor cita um caso como exemplo. “Lembro de um paciente que me disse ‘Doutor, Dipirona passou minha pressão’. Na verdade o que passou foi a dor de cabeça que causava hipertensão”. Ele diz que é natural que existam, dentro de um grupo, pessoas com maior e menor pressão, fato que algumas campanhas preventivas parecem tentar apagar.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde é hipertenso quem mantém uma pressão arterial de 140x90mmHg em diferentes horários, situações e condições. A pressão considerada ótima é de 130x85mmHg. Números do Ministério da Saúde indicam que 35% da população brasileira acima de 40 anos é hipertensa. Desses, 75% recorrem ao Sistema único de Saúde. Para Teixeira, funcionário do Centro de Saúde Escola Samuel Pessoa, unidade de tratamento gratuito, esse dado constitui um sério problema, pois cada paciente dispõe de três consultas por ano para tratar da hipertensão. “O tratamento da hipertensão, juntamente com o de diabetes, acaba consumindo 90% dos nossos recursos”, afirma ele. Nesse contexto, “cuidar da hipertensão é uma prática essencialmente excludente”, provoca o médico. Tanta atenção dada à pacientes hipertensos diminuiria os recursos destinados aos doentes que apresentam sofrimento já manifesto. Ele também aponta que apenas 15% dos pacientes hipertensos apresentaram melhora com o tratamento. “Para 85% dos pacientes, foram tempo e dinheiro gastos à toa”.
O grande erro desse tipo de terapia, que explica sua baixa eficácia, está na individualização do problema. Quando um paciente é diagnosticado como hipertenso, explica Teixeira, ele entra no consultório como alguém normal e sai como anormal. Seus hábitos alimentares e sua rotina têm que ser alterados em prol da suposta doença. O indivíduo afasta-se daquilo que é comum, praticado por todos aqueles com pressão média. “É uma estratégia questionável, inadequada socialmente e sem indícios de eficácia”, diz o médico. Como alternativa, ele cita o seguinte exemplo: “se eu diminuo 10mmHg de toda a população, ao invés de 30mmHg do doente, a eficácia do tratamento passa a ser de 30 a 40% maior”. Isso porque uma política que tem como alvo toda a população não obriga apenas um indivíduo a reconfigurar sua vida.