ISSN 2359-5191

24/06/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 41 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Debate sobre “O Alienista” compara louco a bandido

São Paulo (AUN - USP) - O ladrão assusta tanto quanto o louco. Essa foi uma das conclusões estabelecidas durante debate sobre o conto O Alienista, de Machado de Assis. A discussão aconteceu recentemente no Instituto de Psicologia da USP, durante o Primeiro Encontro de Saúde Mental, organizado por alunos.

O conto machadiano problematiza a loucura, trabalhando a tênue linha que separa a normalidade da insanidade. No texto, os declarados loucos são recolhidos a um sanatório e perdem seu lugar na sociedade. Um bom exemplo de como o escritor ilustra o encarceramento e a exclusão social dos doentes é a passagem em que o presidente da Câmara de Itaguai é entregue aos cuidados do médico. Isso acontece após ele fazer um discurso agressivo: "Este digno magistrado tinha declarado, em plena sessão, que não se contentava, para lavá-la da afronta dos Canjicas, com menos de trinta almudes de sangue; palavra que chegou aos ouvidos do alienista por boca do secretário da Câmara entusiasmado de tamanha energia. Simão Bacamarte começou por meter o secretário na Casa Verde, e foi dali à Câmara à qual declarou que o presidente estava padecendo da ‘demência dos touros’, um gênero que ele pretendia estudar, com grande vantagem para os povos. A Câmara a princípio hesitou, mas acabou cedendo."

Esse episódio narrado por Machado de Assis ilustra o que Vladimir Safatle, outro palestrante do evento, chama de ascenção do poder disciplinar na loucura. O professor da faculdade de Filosofia da USP aponta que, atualmente, todos estão sujeitos a serem taxados de loucos, independente de sua posição na sociedade. A internação num manicômio depende não de honra familiar, mas sim de uma sensibilidade clínica que provoca uma demanda jurídica. Seria por isso que a palavra do alienista tem tanto poder no conto.

Os que estavam presentes no debate compararam manicômios com penitenciárias. Ambos são locais de exclusão, que transformam seus internos em marginais em relação à sociedade. A diferença apontada pelos participantes foi que enquanto o crimioso pode reconstruir sua vida após ser solto, o louco nunca poderá se redimir e será para sempre considerado um fardo para os que o cercam. Ou seja, o manicômio apenas segrega.

Isso remete à luta pelo fim dos sanatórios, defendida pela maioria dos presentes no evento. A proposta dos engajados nessa causa é mudar a base do tratamento aos portadores de doenças mentais e valorizar o lado humano do paciente, que deve permanecer com a família e receber assistência psicológica regular, deixando a intervenção medicamentosa para momentos de extrema necessidade.

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