São Paulo (AUN - USP) - As reformas na universidade ocorridas no fim da década de 70, de conseqüências presentes na estrutura da USP até hoje, foram estabelecidas em meio à repressão. Essa é a opinião de Antônio Carlos Robert de Moraes, professor titular do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP). Em palestra intitulada “1969: o ano em que tudo mudou”, parte das comemorações dos 75 anos da FFLCH, falou sobre o contexto que envolvia as modificações ocorridas nesse ano e suas implicações para as gerações seguintes.
O professor explica que os anos antecessores às reformas universitárias foram marcados com o aprofundamento da repressão da ditadura militar e isso refletiu na vida acadêmica. Logo após o Golpe, Florestan Fernandes, FHC, Mário Schenberg - todos pertencentes à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFCL) - entre outros, foram acusados de subversão. Ainda em 64, apoiado no Ato Adicional (mais tarde chamado de nº1), seis professores e um médico foram demitidos pelo governador Ademar de Barros. Em 1968, a perseguição aos professores universitários fica ainda maior: dá-se início as aposentadorias compulsórias e estudantes da USP e da Mackenzie se enfrentam na Rua Maria Antônia.
Ainda nesse contexto, salienta o papel do Ato Institucional Número Cinco (AI-5) que criado no fim de 68 está em pleno vigor em 1969, ano da reforma universitária. “Listas negras” com diversos nomes de intelectuais importantes na estrutura acadêmica eram divulgadas pelo governo e o processo de aposentadoria compulsória continuou. Enquanto isso, não havia consenso sobre como conduzir a reforma da universidade, que já era discutida há alguns anos.
Conclui afirmando que apesar de existirem projetos em elaboração no interior da instituição a fim de encaminhar ao governo, sua consolidação não ocorreu. Durante a repressão tais estudos foram destruídos e muitos de seus idealizadores, perseguidos. O resultado foi uma reforma imposta a qual extinguiu cátedras, institucionalizou departamentos, isolou e especializou as unidades. As conseqüências disso não se limitam àquele tempo. Até hoje a USP sofre com a dificuldade de se tornar mais interdisciplinar e com a questão da representatividade de suas várias unidades.