São Paulo (AUN - USP) -Prolongar uma vida sem acabar com outra. Essa é a premissa para que as pesquisas com células-tronco ocorram sem a oposição de maioria dos grupos religiosos e políticos. “A questão ética depende de cada um”, é o que diz a cientista do Instituto de Biologia (IB) da USP, Maria Rita e Passos Bueno. Entre posições de setores da sociedade e declarações várias, o trabalho desenvolvido pela pesquisadora está numa situação confortável: a regeneração de tecidos celulares baseada no uso de células-tronco adultas, que não são retiradas de embriões ou impedem o crescimento de um ser vivo.
As células utilizadas na pesquisa são de ratos criados em laboratório e são classificadas como multipotentes, isto é, podem gerar tipos celulares específicos. Também chamadas de células mesenquimais, provêm de polpa de dentes ou tecidos muscular, adiposo e conjuntivo. Após isolamento, as células-tronco são implantadas em fissuras labiais, palatais ou craniais também de ratos. Os resultados até agora têm sido satisfatórios: falhas de oito por cinco milímetros foram corrigidas num período de trinta dias. “O principal objetivo é extinguir doenças crânio-faciais”, afirma Maria Rita.
Outros tecidos, como o próprio músculo, também fazem parte da regeneração e recuperação desenvolvida pela equipe da cientista. Maria Rita acredita que “dentro de dois a cinco anos será viável aplicar os resultados da pesquisa em seres humanos”. Doenças, como o lábio leporino, podem ser sanadas de maneira mais eficiente que em cirurgias reparadoras, prática utilizada atualmente. O uso de células-tronco como alternativa terapêutica começa a se tornar plausível. Sintoma disso é o incentivo dado à pesquisa pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério da Saúde. Segunda Passos Bueno, “está uma área muito bem investida no Brasil e no mundo”.