São Paulo (AUN - USP) - Com a ascensão das novas mídias, o jornalismo sofreu mudanças tanto em seu formato quanto em seu conteúdo. Na área de cultura não foi diferente. Foi o que contou João Gabriel de Lima, editor-chefe da revista Bravo! e Thiago Ney, crítico de música do caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, na palestra “Jornalismo & Cultura“, realizada recentemente na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Para ilustrar essa ideia, Gabriel de Lima citou o exemplo da revista The New Yorker, referência no gênero, mas que, na década de 80, sofreu uma decaída devido à popularização do modelo hard news, criado por Rupert Murdoch. "Os grandes críticos de cultura da época, como Pauline Kael, perdiam espaço nesse tipo de jornalismo utilitário do USA Today", explicou.
A partir daí, as publicações tiveram que se adaptar às novas exigências e se voltaram para um público específico. "O leitor volta a ter uma expectativa no jornalismo como o local onde ele encontra não o serviço, mas a análise, a autoria", disse o editor. Para ele, esse é o caminho que o jornalismo cultural vem tomando nos últimos tempos. "O pão de cada dia da Bravo! é esse: ensaio longo, ou então reportagem".
Segundo Thiago Ney, a função do próprio jornalista mudou dentro desse novo cenário. “O papel do jornalista cultural hoje é muito diferente do que na era pré-internet”. Afirmou que, antigamente, quem cobria cultura tinha o papel de descobrir as novidades e tendências, o que já não acontece mais. “O jornalista tinha essa coisa de mostrar para as pessoas o que estava acontecendo no mundo. Hoje em dia, tudo já foi descoberto”.
De acordo com o crítico, muitos acreditam que o papel do jornalismo cultural é emitir opinião - o que, para ele, “todo mundo emite”. Destacou, entretanto, que o verdadeiro desafio dos jornalistas culturais é fazer uma seleção dentre tudo o que é lançado. “Uma grande função do jornalismo cultural hoje é funcionar como um filtro, mostrar o que é legal”, disse. Além disso, ressaltou a relevância da cobertura de questões que envolvam políticas culturais, como leis de incentivo, por exemplo.
Formação profissional
Para os palestrantes, não existe uma fórmula para ser um bom jornalista cultural. Segundo eles, o caminho é ser curioso e ter vontade de saber, de conhecer. Nas palavras de João Gabriel de Lima, “repórter bom não é investir em ser crítico, é investir em ser bom repórter”. Disse ainda que, para quem quer se especializar em algum assunto, alguns cursos podem ajudar muito. “Quando tiver um curso sobre o que você cobre, vale a pena ir. São duas coisas que se complementam”.
Thiago Ney falou, entretanto, que não acredita muito na necessidade de alguma especialização. “Eu acho que uma formação técnica não é estritamente necessária”. Lembrou, porém, da importância de se ter uma boa bagagem cultural e um bom conhecimento de mundo. “Você precisa ter uma cultura sólida e precisa conhecer o assunto”, completou.