São Paulo (AUN - USP) - Existem hoje muitos produtos no mercado que prometem regular a flora intestinal se consumidos. Para a pesquisadora Carla Taddei, da Universidade de São Paulo, a validade dessa promessa é questionável. Ela explica que a microbiota do intestino humano, ou seja, o conjunto de bactérias que o habitam, atinge o equilíbrio ainda na infância, próximo aos 2 anos de idade, e que esse desenvolvimento inicial seria a pré-condição para um bom funcionamento ao longo da vida.
Carla coordena um estudo pioneiro no Brasil relacionado à microbiota. Ele é muito comum nos Estados Unidos e em países da Europa e consiste em analisar quais são os tipos de bactérias presentes no intestino de pessoas em um determinado grupo social. Nesse caso, acompanhou-se um grupo de 17 crianças nascidas no Hospital Universitário da USP. Durante dois anos, suas fezes foram coletadas e processadas com o objetivo de acompanhar a presença de bactérias ao longo do tempo. A pesquisa ajudará a entender a formação da microbiota e suas variações dentro de um mesmo ambiente.
Na prática, compreender o processo de formação da microbiota pode contribuir para apontar medidas que a favoreçam. Descobertas como a importância do leite materno nesse período ou os alimentos com capacidade de estimular o desenvolvimento e a manutenção das bactérias benéficas seriam o primeiro passo para prevenir problemas intestinais na fase adulta.
Dificuldades com voluntários
Como qualquer pesquisa que depende de voluntários, Carla Taddei e os demais envolvidos tiveram problemas de comprometimento. As amostras de fezes deveriam ser colhidas pelas mães das crianças e levadas ao laboratório, mas apesar de receberem o valor para transporte e alguns benefícios como a doação de fraldas, algumas deixaram de levá-las após alguns meses. De acordo com a pesquisadora, essa é uma dificuldade comum enfrentada por pesquisas desse tipo.