São Paulo (AUN - USP) - A influência das imagens nas relações sociais e a crise da visibilidade nos dias de hoje foram comentadas por Norval Baitello Jr, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A palestra “Ciência da imagem: inquietações e incertezas” compõe o ciclo “Design hoje: depoimentos e temas correlatos”, no Centro Universitário Maria Antônia, da USP.
O professor e pesquisador iniciou o debate ressaltando a importância em se discutir a atual inflação de imagens, ou seja, o excesso de visualidades e audiovisualidades no cotidiano do homem contemporâneo. Segundo o pesquisador, isso ocorre porque somos cercados e bombardeados por elas diariamente, processo que resulta na chamada crise da visibilidade, em que as pessoas perdem a capacidade de discernir e enxergar. Atualmente, há tantos estímulos visuais nos ambientes em que circulamos, que perdemos a orientação nos campos de visão.
Baitello cita o filósofo Dietmar Kamper, autor de obras sobre antropologia e imagem, que discute a visão humana em função do “sofrimento dos olhos” e da sua hipersolicitação, fenômeno que gera uma auto-defesa impeditiva à percepção dos elementos visuais. Para Kamper, cria-se uma espécie de resistência dos olhos que limita a admiração e contemplação que ocorria em outros tempos. Um cartaz nos anos 50, por exemplo, era visto de maneira diferente de um cartaz nos dias atuais. Para Baitello, essa realidade intensificou-se nos anos 70, após o desenvolvimento de técnicas de impressão e reprodução.
Esse processo relaciona-se também ao fato da comunicação se apoiar fundamentalmente na visualidade. As produções midiáticas e os adventos da tecnologia trouxeram uma realidade predominantemente visual, que promove um recuo dos outros sentidos. A partir dessa reflexão, Baitello explora a relação presença-ausência, afirmando que “elas mostram, mas também escondem. Quando olhamos uma imagem, queremos saber o que há por trás delas”. O pesquisador se apóia na teoria do filósofo alemão Hans Belting, autor de Imagem e culto, para explicar a maneira como se deu a assimilação das imagens ao longo do tempo e como a História da Arte se apropriou de algo muito anterior a ela mesma. Belting diferencia, portanto, a imagem de culto da imagem artística. Assim, classifica uma imagem de culto como algo que se relacionava à transcendência do homem em um espaço de introspecção. Já a imagem artística, aquela com a qual lidamos no cotidiano, seria algo com intenções estéticas voltadas à imanência, fundamentalmente em um espaço de exposição.
Dessa forma, a última expressão desse processo seria a realidade que se estabelece a partir do século XX, em que as imagens saem dos museus. A transcendência em espaço de introspecção da imagem de culto passou à imanência em espaço de exposição da imagem artística, resultando na persistência em espaço público da imagem midiática. Esse pensamento destrinchado pelo professor justifica muitos dos fenômenos expostos no início da palestra. Assim, por meio desses e de outros elementos teóricos que se baseiam nas origens e vertentes da visualidade, Baitello conclui seu pensamento acerca da influência das imagens no cotidiano da sociedade contemporânea, bem como na criação e afirmação de crises relacionadas a ela mesma.