São Paulo (AUN - USP) - O sociólogo pernambucano Francisco de Oliveira, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, agora é também um paulistano. A iniciativa de entregar o título de cidadão de São Paulo a Chico de Oliveira – como o professor é mais conhecido – partiu de Nabil Bonduki, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e vereador pelo Partido dos Trabalhadores. Para acompanhar a homenagem e relembrar a importância da obra do sociólogo, a Faculdade organizou um seminário de três dias, com a participação de docentes de diversas unidades.
Na conferência de abertura, os palestrantes transpuseram o exercício da crítica, marco da trajetória do homenageado, para a atual conjuntura da política nacional. Com a exceção de Luiz Werneck Vianna, que preside a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, o tom geral foi negativo em relação ao governo Lula. A filósofa Marilena Chauí, que como Chico de Oliveira assinou uma recente carta na qual intelectuais de esquerda solicitaram ao presidente que rejeitasse a Alca e o projeto de autonomia do Banco Central, disse acreditar que o novo governo "ainda irá começar", e que atravessamos uma fase de transição pós-neoliberal.
Nos debates seguintes, pesquisadores de diferentes áreas analisaram aspectos centrais ao pensamento de Chico de Oliveira, como a sobrevivência da política em uma era de enfraquecimento do poder público, as relações entre desenvolvimento e dependência no Brasil e as novas interações de classe no atual estágio do capitalismo. Fernando Haddad, também da FFLCH, ressaltou o papel do homenageado como foco de resistência intelectual durante a ditadura militar, época em que o sociólogo integrou o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), do qual chegou a ser presidente.
Desde a década de 60, Oliveira destacou-se em uma geração de grandes sociólogos e economistas brasileiros – como Florestan Fernandes e Celso Furtado – ao publicar estudos profundamente interdisciplinares, fundindo a lógica da Sociologia às da Economia, das Ciências Políticas, da Geografia, da Antropologia e mesmo do Urbanismo. Sempre o fez de forma engajada, em nome da compreensão intelectual do Brasil. Contando com a presença de outros pensadores das novas dinâmicas do trabalho, como o professor da Faculdade de Economia e Administração Paul Singer, o seminário chegou ao final quando Bonduki entregou a Oliveira o título de cidadão paulistano, sob aplausos cerrados da platéia.