São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas quer determinar a composição de comprimidos de ecstasy comercializados ilegalmente na Grande São Paulo. Em fase inicial, o método que será utilizado para a análise desses comprimidos já foi validado.
“Nos últimos tempos, tem aumentado muito a apreensão da droga em São Paulo”, conta a professora responsável pelo estudo, Regina Lucia de Moraes Moreau. Ela explica que, por serem sintéticos, de fácil fabricação, qualquer laboratório “fundo de quintal” consegue produzir os comprimidos sem muitas dificuldades. Além disso, podem ser transportados e comercializados facilmente. Outro fator que estimula a produção da droga é o fato de não serem necessários amplos espaços para o cultivo de plantas como matéria prima.
É exatamente porque o ecstasy é fabricado em diversos locais que a sua composição e aparência varia tanto. Os comprimidos podem apresentar diferentes formatos, cores e desenhos, de acordo com cada fabricante. Mas o que preocupa mesmo é o fato de a sua constituição variar muito. “Não se sabe ao certo ainda o que há dentro de cada comprimido”, revela a pesquisadora.
Ela explica que a substância responsável pelo princípio ativo do ecstasy é o metilenodioximetanfetamina (MDMA), um composto sintético com propriedades estimulante central e alucinogênicas. É obtido a partir da introdução de um radical (metilenodioxi) na molécula da metanfetamina (metilanfetamina). Contudo, existem mais de 100 combinações possíveis entre moléculas da família das anfetaminas e outros radicais que podem gerar os mesmos efeitos alucinógenos para o consumidor.
Segundo Regina, outras substâncias, diferentes daquelas que garantem o princípio ativo da droga, podem estar presentes nos comprimidos. Entre os chamados diluentes, adicionados para diluir o ingrediente ativo, estão açúcares como a lactose e a glicose. Já entre as substâncias adulterantes mais comuns estão a cafeína e a efedrina, mas até mesmo a estricnina, que é tóxica e pode levar à morte, já foi encontrada no ecstasy. Esses últimos componentes também possuem propriedades estimulantes. “Os usuários não têm idéia que podem estar expostos a outras substâncias potencialmente tóxicas além do próprio MDMA”, diz a professora.
A análise dos comprimidos tem duas funções. A primeira é quantificar o MDMA encontrado, que consiste em definir o grau de pureza da droga. O segundo passo é identificar outros derivados análogos do MDMA e os adulterantes adicionados.
Pretende-se analisar as variações na composição dos comprimidos a partir de apreensões realizadas na região metropolitana de São Paulo, oriundas de lotes diferentes. Regina acredita que, na medida em que os tipos de comprimidos identificados forem relacionados a determinadas apreensões, “o estudo poderá também dar subsídios a profissionais da área forense na descoberta de rotas do tráfico”. Além disso, quando forem definidas todas as composições e características físicas da ‘pílula do amor’, a Legislação brasileira terá condições de proibir o uso e a venda de todas as substâncias análogas ao MDMA.