São Paulo (AUN - USP) - Na última sexta-feira, o Cinusp foi palco para a exibição do filme O Céu Sobre os Ombros, como parte da 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Com estreia no circuito comercial marcada para dia 18 deste mês, o longa ganhou, ano passado, cinco Candangos no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e o prêmio de melhor documentário do Festival Internacional de Cinema do Uruguai.
O filme conta as histórias de três personagens singulares. Um escritor descendente de africanos desiludido com a vida, que não publica seus livros e tem um filho com deficiência mental. Um atendente de telemarketing hare krishna que divide seu tempo entre o trabalho, a torcida organizada Galoucura, o skate e a pixação. Um transexual com mestrado sobre os diários de um hermafrodita que divide seu tempo entre as aulas que ministra, sobre gêneros, e a prostituição.
“Eu comecei a procurar pessoas que pudessem parecer, de alguma maneira, personagens inventados”, define Sérgio Borges, diretor do longa. Mas apesar de ter ganho prêmio como documentário no Uruguai e de os atores serem as próprias personagens, Borges não considera seu filme documentário. “Quando a gente coloca uma câmera mediando essa relação, algo se transforma também porque as pessoas de alguma maneira reencenam a si mesmas”. O diretor se justifica argumentando que muitas cenas do filme foram deliberadamente encenadas. Para filmar as histórias, a equipe acompanhou cada ator/personagem durante uma semana fazendo o que faziam naturalmente. No final de cada semana, algumas cenas eram encenadas.
Inicialmente, o filme foi pensado para ser um documentário sobre fluxos migratórios, cujo nome seria Cidades Invisíveis. Durante a pesquisa, Borges leu o livro homônimo, de Ítalo Calvino, que aborda a relação entre realidade e desejo. “Daí foi a semente inicial do filme”, conta Borges.
Estrutura
O Céu Sobre os Ombros foi feito com R$ 120 mil. Já Xuxa em O Mistério de Feiurinha teve quase R$ 6,5 milhões captados usando a Lei de Incentivo à Cultura, segundo a Ancine. Para que O Céu... pudesse ser filmado, a equipe se resumiu a quatro pessoas: dois câmeras, um assistente de som e um assistente de câmera. A produtora, Teia, foi escolhida por fazer filmes em sistema doméstico.
O longa estreará no circuito comercial nacional este mês mas Sérgio Borges não tem grandes pretensões. Sua aposta são os circuitos de festivais de cinema, como a Mostra Internacional. Até agora a película participou, entre ano passado e esse ano, de 31 festivais.