São Paulo (AUN - USP) - “Inclusão é um processo de mão dupla, envolve incluir e preparar a sociedade para lidar com as diferenças”, afirmou Linamara Batistella, da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, no evento Oportunidades e Desafios para o Trabalhador com Deficiência, promovido na Faculdade de Economia, Administração e Ciências Atuárias da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
O debate foi idealizado a partir de pesquisa desenvolvida pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) que entrevistou cerca de 1500 trabalhadores com e sem deficiência, de empresas principalmente de médio e grande porte. A partir dos dados obtidos, foram detectados perfis comparáveis, distinguindo, inclusive, dois grupos de trabalhadores com deficiência.
Todos os resultados das 70 questões de âmbito profissional aplicadas a esses trabalhadores foram apresentados, em porcentagens, pelo professor José Afonso Mazzon, da FEA. Entre os dados levantados, a pesquisa falou sobre satisfação, escolaridade, benefícios e distância da moradia para o emprego.
Entre os dados relevantes obtidos, gerou grande discussão o fato de a maior parte dos deficientes entrevistados (41,5%) ter nível de escolaridade apenas até o ensino médio. Para Pedro Martins, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) a principal questão a ser levantada é “o que está inibindo o deficiente de chegar à escola?”. De acordo com ele, essa questão será respondida apenas quando se considerar que “tratar pessoas iguais de formas diferentes é injusto, mas também é injusto tratar pessoas diferentes de formas iguais”.
Os dados da pesquisa formaram dois grupos de perfis distintos entre os próprios trabalhadores deficientes: o primeiro, constituído de 67% deles, com uma visão “pessimista” das condições de trabalho - avaliando negativamente processos de seleção, treinamento, feedback, cansaço gerado pelo trabalho e os demais pontos questionados na pesquisa - e o restante com uma visão, de certa forma, mais otimista das relações trabalhistas no geral.
Segundo Mazzon, apesar de a pesquisa ter notado esses dois padrões claros, não há diferenças significativas nos salários desses dois grupos, tampouco na área em que atuam no mercado ou na escolaridade. Além da insatisfação, o único fator com diferença relevante entre os dois perfis é a quantidade de vezes que foram promovidos no emprego atual, tendo o primeiro grupo menos porcentagem nesse quesito.
O professor deixou claro durante toda a mostra que a base essencial da pesquisa foi a percepção do próprio trabalhador a respeito de suas atividades. O questionário, realizado pela internet, não possuía ferramentas de inclusão para alguns tipos de deficientes, como visual ou auditivo não usuário do português, mas havia a possibilidade de ser respondido com acompanhamento e auxílio de pessoas sem deficiência, como familiares, amigos e colegas.