São Paulo (AUN - USP) - Para muitos idosos, o medo de sofrer uma queda é maior que o medo de passar por uma situação de violência, como um assalto. Essa constatação foi mostrada por Maria Horne, enfermeira pesquisadora do Reino Unido, convidada para o encontro realizado em dezembro na Conferência USP sobre o Envelhecimento. Segundo ela, as quedas são uma das maiores razões de doenças e de incapacidade em idosos. Em suas pesquisas percebeu que mais de um terço da população acima de 65 anos sofre o acidente pelo menos uma vez a cada ano e aproximadamente 80% dos casos nunca são reportados às autoridades de saúde, o que prejudica a identificação dos riscos.
Maria faz parte da Rede de Prevenção de Quedas da Europa (ProFaNe, na sigla em inglês) e trabalha principalmente com os aspectos psicológicos da queda. Sua tese de doutorado foi sobre as atitudes e crenças que envolvem as atividades físicas, com foco na prevenção de acidentes nos idosos. Horne fez um estudo com comunidades do Cáucaso e do sul da Ásia. Com base nos resultados, foi possível afirmar que as lesões não eram apenas físicas. O medo de cair, segundo ela, é bem mais comum nos idosos do que o receio de que aconteça algum crime ou outro tipo de violência. Esse fato geralmente leva a pessoa a se socializar menos e a passar mais tempo em casa, o que diminui a prática de exercícios que fortalecem as pernas.
No grupo avaliado, apenas 44% das pessoas acreditavam que uma vida ativa evitaria quedas. Horne percebeu que programas baseados em comunidades ajudavam na adesão aos exercícios. A indicação é que eles sejam feitos ao ar livre e sempre em grupo, porque auxiliam na socialização e motivam as pessoas a não desistirem. Com base em estudos anteriores, a pesquisadora percebeu que o tempo médio de doze semanas adotado pelas outras metodologias não era suficiente para mudar o hábito das pessoas. Para ela, é recomendável um programa de exercícios de no mínimo seis meses para apresentar melhores resultados na continuidade da atividade física.
Para Horne, é preciso estimular a intenção vinda do próprio paciente, pois só assim ele continuará a rotina após o término do programa. “Precisam sentir confiança e controle para mudar o comportamento”, disse. Outro problema identificado nas estratégias que já existem é indicar “evitar quedas” como finalidade. A pesquisadora explica que informar que o exercício diminui acidentes não motiva as pessoas. A melhor forma para ser mais aceito é mostrar que as atividades promovem a força e o equilíbrio. “Os idosos ‘jovens’ não acham que os acidentes acontecerão com eles”. A crença de que isso ocorrerá apenas quando estiverem mais frágeis é muito grande. Horne, no entanto, alerta que é preciso mudar de hábito antes para não chegar a esse ponto de vulnerabilidade.