São Paulo (AUN - USP) - O alinhamento do Brasil com os Estados Unidos em votações na ONU (Organização das Nações Unidas) atinge seus valores mais baixos, é isso que concluiu o professor Octavio Amorim Neto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas) – Rio de Janeiro em seu livro A condução e os determinantes da política externa brasileira.Votar de acordo com a potência norte-americana garante benefícios para os países subdesenvolvidos, como facilidade para obter empréstimos no FMI. E, durante muitas décadas, o Brasil teve essa conduta em relação ao seu maior parceiro econômico.
Nos anos 1960, Henry Kissinger, conselheiro de política externa norte-americano, chegou a afirmar que não eram necessários esforços para manter um bom relacionamento com o Brasil, uma vez que nós já os acompanhávamos nas votações da ONU. Nosso alinhamento com a política norte-americana alcançou seu máximo nas décadas de 40 e 50, quando os Estados Unidos consumiam mais de 50% de nossos bens exportados, período que ficou conhecido como “americanista”, chegando aos menores níveis antes do golpe de 1964, a partir do qual o alinhamento foi direto, só caindo novamente com Geisel após o milagre econômico.
O papel do executivo também se transformou no período estudado por Amorim: esse é cada vez mais forte na política externa. “Os presidentes viajam muito mais, o que significa que eles estão trazendo para si a condução da política externa, delegam menos para o Itamaraty, ou seja, toda vez, ao assumir o poder mexem no quadro de embaixadores para colocarem nas principais embaixadas seus homens e mulheres de confiança”, explica o professor. Desde 1946, o Itamaraty já é plenamente profissionalizado, e atualmente o número de diplomatas afiliados a partidos políticos é reduzido, o que facilita a troca de cadeiras feita pelo presidente.
Amorim pesquisou também a influência da ideologia política em nossa política externa: “Apesar de o Congresso ter inúmeras prerrogativas na área de política internacional, os dados empíricos e a literatura mostram que o efeito do Congresso, se existe, é indireto via participação dos partidos no gabinete presidencial.” Na verdade, o maior determinante da nossa política são as nossas capacidades materiais. Atualmente, representamos cerca de 2% das capacidades materiais mundiais, reflexo de nossa urbanização, industrialização e investimentos militares. E, quanto maior nossa capacidade material, menos tendemos a votar com os Estados Unidos.
Com a ampliação do nosso Hard Power, nos tornamos mais confiantes para nos afastar do país que sempre deu o tom de nossa democracia. Mas Amorim conclui: “Esse modelo de análise que tem como vetor central a relação do Brasil com os Estados Unidos é datado historicamente, mas por conta da emergência da China e do sucesso brasileiro em termos de afirmação de um papel mais amplo nas relações internacionais. Certamente nas próximas décadas serão outros os principais determinantes da política externa brasileira.”