São Paulo (AUN - USP) - A Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas da USP recebeu, no dia 18 de setembro, o evento de lançamento do livro Os sentidos do lulismo – reforma gradual e pacto conservador, do cientista político e jornalista André Singer. O livro, lançado pela Companhia das Letras, tem origem em uma série de estudos e artigos publicados por Singer avaliando o surgimento e evolução do lulismo no cenário político brasileiro.
O lançamento foi acompanhado de debate entre o autor e quatro grandes estudiosos da política brasileira – Cicero Araujo, Bernardo Ricupero, Brasilio Sallum Jr. e Francisco de Oliveira – que fizeram seus comentários e questionamentos sobre o conteúdo da obra. O debate foi acompanhado por um auditório lotado, com mais de 100 espectadores.
Em sua exposição, Bernardo Ricupero, professor de Ciência Política da USP, comentou a possibilidade de o lulismo ser apenas um acontecimento conjuntural, reflexo das condições político-econômicas da sociedade brasileira, em contraponto com a hipótese defendida por Singer no livro, que compreende o lulismo como um fenômeno mais duradouro, uma posição política de longo prazo.
A mesma sugestão de que o lulismo fosse um fenômeno resultante da conjuntura atual foi realizada por Brasílio Sallum Jr., professor de Sociologia da USP, que ainda destacou a inovação da análise realizada por André Singer ao associar a discussão político-eleitoral ao comportamento das classes sociais, em especial o subproletariado, termo designado pelo autor para denominar as massas excluídas das relações de consumo e trabalho. “O livro rompe a casca da sociologia eleitoral para fazer um trabalho de sociologia política”, explicou Sallum Jr..
Francisco de Oliveira, sociólogo e um dos fundadores do PT, comentou duas discordâncias em relação à análise de Singer: a elasticidade do conceito de classe presente no livro e o entendimento de que a maior parte do subproletariado encontra-se na região Nordeste, quando ele estaria na verdade em São Paulo. “O que há no Nordeste é um resto de uma antiga miséria, não o subproletariado”, defendeu o sociólogo.
André Singer, então, respondeu aos componentes da mesa explicando as opções que teve que fazer para compor os critérios que nortearam as pesquisas originárias do livro, justificando, por exemplo, a amplitude do conceito de classe como uma escolha consciente e necessária para o andamento de seu estudo. Por fim, reiterou sua hipótese do lulismo como um movimento de adaptação das políticas sociais ao capitalismo, de reformismo. “Não é o inverso do neoliberalsmo, mas uma recombinação surpreendente de elementos neoliberais com elementos claramente não neoliberais, como o aquecimento do mercado a partir das classes mais baixas”, explicou o autor.