São Paulo (AUN - USP) - No início de novembro, o Prolam (Programa de Integração de América Latina) promoveu a palestra “A destituição de Lugo e a problemática dos brasiguaios”, com Fabio Luis Barbosa dos Santos, doutor em História Econômica pela USP e professor da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-americana). Ele apresentou sua pesquisa realizada para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Santos afirma que a queda do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo e os grandes proprietários brasileiros de terras paraguaias, chamados de brasiguaios são “problemáticas que se tangenciam, mas não se identificam”, já que a deposição ocorreu após um conflito agrário.
Ele explica que, no Paraguai, a questão agrária é muito tensa devido à grande quantidade de terras concentradas na mão de brasileiros, o que influenciou na explosão do conflito.
A gênese da questão agrária paraguaia se deu após a Guerra do Paraguai, quando as terras da população foram expropriadas e surgiram problemas como concentração de terras, latifúndios, superexploração da mão-de-obra e poder político vinculado à propriedade fundiária.
Santos afirma que os vínculos entre Paraguai e Brasil se estreitaram a partir de 1964. Na época, o Paraguai queria colonizar suas terras à leste e o governo brasileiro, seguindo ideias do militar Golbery do Couto e Silva, passou a adotar o conceito de fronteiras vivas, significando que as fronteiras brasileiras se estendiam até onde estão os brasileiros.
Assim, brasileiros foram incentivados a se tornarem grandes produtores de soja em terras paraguaias, mais baratas do que em seu País, pressionando pequenos produtores locais e agravando a questão agrária.
Deposição
Fernando Lugo, o primeiro presidente que não era ligado ao Partido Colorado depois de décadas, foi deposto em 22 de junho de 2012. A deposição ocorreu dias após um confronto armado em uma fazenda em Curuguaty, que resultou na morte de 6 policiais e 11 camponeses. Santos afirma que as terras que os camponeses ocupavam eram mal havidas, ou seja, estavam irregularmente nas mãos de seu proprietário. Além disso, o confronto teria sido uma armação em que atiradores mataram alguns policiais, que reagiram executando camponeses.
Santos levanta a hipótese de dois suspeitos de armarem o confronto com o intuito de desestabilizar o governo de Lugo. Aldo Zucorilo, magnata da mídia paraguaia e definido por Santos como “embaixador informal dos EUA” no País, teria pressionado, por meio da publicação de notícias, o empresário da área de bebidas e cigarros Horácio Cartes, um colorado com pretensões presidenciais, a providenciar a armação do conflito.
Lugo, que era apoiado por liberais e camponeses, teve atitudes polêmicas após o conflito, contribuindo para sua queda. Ele ofereceu suas condolências às famílias dos soldados mortos, e não aos camponeses. Em seguida, irritou liberais substituindo o ministro do Interior, membro do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico) por um colorado. Dessa forma, segundo o pesquisador, com os movimentos sociais desencantados e sem apoio do PLRA, a queda de Lugo foi precipitada.