São Paulo (AUN - USP) - O Escritório Piloto, projeto de extensão da Escola Politécnica da USP, realizou no final de novembro uma discussão com Renato Boareto, do Instituto de Energia e Meio Ambiente, sobre a elaboração dos planos de mobilidade urbana. Renato foi diretor da equipe técnica do caderno de referência para elaboração de plano de mobilidade urbana, desenvolvido pelo ministério das cidades. De acordo com Boareto, há 79 cidades com mais de 300 mil habitantes no Brasil. Dessas, 16 têm mais de um milhão de habitantes. “Uma cidade com mais de 60 mil habitantes já tem que ter um sistema de transportes”, afirma. A questão da grande frota de veículos é o que mais pesa no Brasil, o quarto maior mercado de veículos novos no mundo. O aumento da renda da população, associada à facilidade de crédito e a menores preços, colabora para que haja maior número de veículos individuais nas ruas. “Por questões de renda, tem pessoas que começam a trabalhar e já compram uma moto, não passam nem pelo transporte público”, afirma Renato. Esse pensamento individual é reflexo da falta de políticas públicas voltadas para o transporte coletivo, que apresenta super lotação, falta de integração física e tarifária, redes desconexas. As pessoas não se sentem atraídas a utilizar o sistema de transporte público, pois as viagens e deslocamentos estão cada vez mais longos e cheios. “A população sabe que se ela comprar um carro, a vida dela melhora”, diz Renato. “Estamos vivendo o maior ciclo de investimentos em infraestrutura de mobilidade urbana desde a década de 1980”, afirma Renato Boareto. Porém, uma parte da aplicação desses investimentos está indo para a construção de obras viárias, que são chamadas de “obras de mobilidade”. Para Renato, o discurso dos governantes de prioridade para o transporte público não é colocado na prática, pois somente são apresentadas soluções caras. O plano de mobilidade urbana, que deve ser aplicado nos municípios até abril de 2015, é uma ótima oportunidade para materializar o discurso político de mobilidade local e aumentar a participação do transporte público e não motorizado na vida urbana: “É uma outra lógica, um outro olhar sobre a cidade que vai gerar essa maior mobilidade” O pesquisador chama a atenção para sistemas baratos que podem gerar frutos a curto prazo, como corredores e faixas exclusivas de ônibus, tirando esses veículos do congestionamento. Também deve haver aumento da oferta de transporte público e desestímulo ao uso do transporte individual, para que a população se sinta segura de deixar seus veículos individuais em casa.