ISSN 2359-5191

16/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 4 - Sociedade - Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina
Tortura na ditadura militar brasileira e argentina é tema de pesquisa Na USP

De acordo com uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM/USP), o Brasil teria sido o principal exportador de torturadores e tecnologia de flagelação para a América Latina na época em que ditaduras militares assumiram o poder pelo continente. A técnica de lançamento de presos dopados ao mar, amplamente utilizada em território argentino, consistiria, na verdade, em uma “invenção” brasileira. Além do mais, relatos provindos de vítimas do país vizinho afirmam que muitos dos torturadores falavam em português, atestando esse intercâmbio de informações e técnicas entre as ditaduras.

Para a psicóloga Myrna Coelho, pesquisadora em Saúde Mental e Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo, o Brasil “deve um pedido de desculpas para toda a América Latina”. No workshop Sofrimento e Tortura: Brasil (1964-1979) e Argentina (1976-1983), realizado em março no Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), Coelho expôs sua tese, na qual analisa a experiência de presos políticos torturados pelas ditaduras brasileira e argentina a partir da fenomenologia-existencial método filosófico que tenta atingir o sentido da existência humana em sua plenitude, sem levar em consideração características determinantes de cada indivíduo, para não haver alterações na maneira de como o fenômeno se apresenta.

A pesquisa baseia-se em 5 mil relatos de presos políticos brasileiros e argentinos, desde inquéritos policiais e militares a narrativas de testemunhas e entrevistas, comparando supostas semelhanças entre o que ocorria nos dois países. Entre eles, no Brasil, está o de Hilda Gomes da Silva, esposa de Virgílio Gomes da Silva o “Jonas”, da Aliança Libertadora Nacional (ALN). De acordo com a especialista, Hilda foi presa no dia seguinte ao assassinato de seu marido. Como ela não sabia das ações de Jonas, nada disse em dois dias de tortura, fato que “obrigou” os militares a aplicarem choques elétricos em sua filha de apenas quatro meses de idade.

Myrna Coelho comparou a situação de Hilda com a narrativa apresentada por Carlos Lord, presidente da Associação dos ex-Detidos e Desaparecidos da Argentina. Ele contou, em uma entrevista, que foi preso com sua esposa e seu filho de dois meses de idade e tentou resistir ao interrogatório. Entretanto, quando Lord não respondia a alguma pergunta, seu bebê era torturado também com choques sobre o corpo do pai.

Além da tortura física, a atrocidade psicológica sofrida pelos “subversivos” na Argentina também era bastante parecida com o que ocorria no Brasil, segundo a pesquisa. “Aqui você vai confessar o que você sabe e o que você não sabe” e “Vamos te suicidar” eram algumas das frases utilizadas pelos militares para amedrontar os prisioneiros. No entanto, em ambos os países, não se tinha a intenção de somente extrair informações relevantes contra os “rebeldes”, como se pensava. Coelho constatou que essa prática tinha como finalidade a manutenção do regime e servia de “exemplo” para o restante da população.

“Muitas pessoas confessaram crimes que elas não tinham cometido, assinaram documentos sobre efeito de tortura, tanto física quanto psicológica, para produção de prova. Além disso, a tortura serviu também de mecanismo de terror para o restante da sociedade”, disse a psicóloga. “A tortura era utilizada para ‘fazer calar’ e oficializar uma história prévia dos acontecimentos”.

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